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ANEXOS



Anexo 1: Itinerário histórico, político e tecnológico: o contexto da prática de queimadas no Estado do Mato Grosso.

O PADRÃO DE OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA LEGAL

A Região Amazônica foi, até "recentemente", considerada como um imenso vazio demográfico, detentor de uma inesgotável fonte de recursos naturais à disposição da humanidade. Durante a década de 50, a ocupação e produção agropecuária dessa região foram caracterizadas por uma atividade pecuária praticamente sem expressão, desenvolvida sobre campos, pastagens naturais e várzeas, distribuídas, sobretudo, nos Estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso, Amapá e Roraima.

O crescente interesse internacional pela Amazônia, aliado às grandes dimensões territoriais da região e à sua baixíssima densidade populacional, apontavam, já na década de 50, para a necessidade de se estabelecer uma definitiva e reconhecida soberania nacional sobre a região, até mesmo nas suas porções mais isoladas e distantes. Esse sentimento fez com que o Governo Federal elaborasse e adotasse políticas de implementação de infra-estrutura para melhorar ou viabilizar o acesso à região, incentivando concomitantemente a sua colonização e ocupação, entendendo tratar-se de uma forma eficiente de povoar e garantir a soberania sobre toda a extensão territorial amazônica.

Nas décadas seguintes, várias estratégias foram adotadas para chamar a atenção e despertar o interesse nacional pela região. O planejamento e construção de importantes rodovias que funcionassem como redes de integração espacial associado à implantação de grandes assentamentos rurais, tiveram como principal objetivo incentivar a migração de populações, oriundas de outras partes do Território Nacional, para a região Norte, além de integrar o mercado nacional às estruturas produtivas da região e atrair novos empreendedores para a Amazônia.

Algumas das mais importantes ações governamentais para povoamento e desenvolvimento da região foram listadas por Homma (2003), onde o autor relaciona, de forma cronológica, a criação de importantes centros de pesquisa e difusão, a implementação de infra-estrutura de acesso à região e a implementação de inúmeros assentamentos de agricultores, entre outras ações.

Uma das iniciativas mais ousadas e estratégicas, promovidas pelo Governo Federal, com o objetivo de criar grandes eixos viários de comunicação e acesso às mais remotas regiões da Amazônia, foi deflagrada em junho de 1970, com o lançamento dos editais de concorrência para a construção da Rodovia Transamazônica.

Com inauguração dessa rodovia, em 1972, possuindo uma extensão de 4.962km, o Governo Federal abriu um verdadeiro canal de acesso à região Norte, que necessitava, ainda, de estímulos e facilidades adicionais para atrair novos agricultores. A estratégia adotada pelo Governo Federal foi a criação de assentamentos de pequenos agricultores, dando início à fase dos grandes desmatamentos na Amazônia.

Concomitantemente à implantação desses grandes assentamentos, foram também abertos e implantados outros importantes eixos rodoviários da Amazônia como, por exemplo, a Cuiabá – Santarém, que em 1973 atingiu o quilômetro 642; a Perimetral Norte, com uma extensão de 2.600km, ligando Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre a Macapá, no Estado do Amapá; a Rodovia Tomé-Açú – Belém, a Belém - São Luis; o trecho Itaituba-Humaitá, da Rodovia Transamazônica etc.

Apesar disso, a expansão da fronteira agrícola da Amazônia não deve ser considerada como uma relação unilateral de causa e efeito com a expansão da malha rodoviária. Há, nesse contexto, uma relação de retroalimentação positiva entre as duas, estabelecendo um ciclo onde as melhorias atraíram mais migrantes para a região, provocando a expansão da fronteira agrícola e justificando as melhorias na estrutura viária e o avanço da ocupação para novas áreas, onde o processo se repetia (Fearnside8, 1982, apud Homma, 1993, p.123).

Para Homma (1993) e Becker (2005, p. 73), as significativas alterações dos padrões de ocupação promovidos pela incorporação dessa nova rede viária definem e marcam a passagem da "civilização da várzea", pautada pela ocupação das margens dos rios, principais vias de acesso e comunicação da região antes da década de 60, para a "civilização da terra firme", na qual as estradas, construídas nos interflúvios amazônicos, assumiram o papel outrora designado aos rios.

Dessa forma, o padrão de ocupação predominante nas décadas de 60 e 70, cujos atores eram motivados pela consolidação dos grandes eixos viários de integração, foi caracterizado pela abertura de pequenas propriedades, onde a utilização de processos de produção rudimentares servia basicamente para o sustento familiar. Incentivos fiscais para alguns grandes projetos agropecuários também tiveram papel significativo, acarretando a abertura e formação de grandes unidades com pastagens extensivas.

Ferreira et al. (2005, p. 159), analisando o impacto da abertura das estradas sobre os desmatamentos e a implantação das propriedades rurais, afirmam existir um padrão exponencial de desmatamentos em função da distância das estradas, ou seja, grandes proporções de desmatamentos são efetuadas próximas às estradas.

Binswanger (1991, p. 823) ressalta que: além do acesso à terra, o direito à posse de terras devolutas através da demonstração do seu uso efetivo e morada habitual, formalmente reconhecido desde 1850, é um dos principais fatores responsáveis pelos agressivos e rápidos processos de transformação da paisagem natural nas frentes de expansão. Margulis (2000, p. 8) afirma ainda que a abertura de novas estradas proporciona o acesso a essas terras para os pequenos agricultores e, invariavelmente, promove o avanço do processo de disputa pelos direitos à terra.

Outros dois estudos, realizados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON, apontam uma situação mais crítica ainda, em relação à associação entre a pressão humana sobre a floresta amazônica e a presença de estradas. Barreto et al. (2005, p. 3) estimaram que aproximadamente 80% da área total desmatada está localizada na faixa de até 30 quilômetros a partir das estradas oficiais. Em outro trabalho, Souza et al. (2004) mapearam as chamadas estradas endógenas (clandestinas) e detectaram um avanço sem precedentes. Em 1990, a extensão das estradas endógenas era de 5.042 quilômetros na região Oeste do Estado do Pará; em 1995, esse número cresceu para 8.679 quilômetros e, em 2001, atingiu um total de 20.796 quilômetros.

Do ponto de vista macro-econômico, a abertura e entrada de capitais estrangeiros aliados aos planos governamentais, relacionados sobretudo à extração de recursos minerais realizados a partir da década de 70, possibilitaram e aceleraram a consolidação de uma infra-estrutura que influenciou o desenvolvimento crescente e acelerado da atividade agropecuária na região amazônica. Esse histórico de ocupação mostra que atividades como o cultivo de cacau, a extração da borracha, o cultivo de pimenta do reino e o garimpo, tiveram destacado papel na atividade econômica da região no passado e, atualmente, cederam espaço para a mineração, a pecuária e alguns cultivos, praticados de forma intensiva e através do emprego de tecnologias de ponta.

Enquanto os pequenos colonos, instalados nos primeiros projetos de assentamento, ainda sofrem com a ausência de políticas públicas eficientes para acabar com a morosidade dos processos de legalização e oficialização da sua situação fundiária, as subseqüentes ondas de ocupação têm consolidado novos atores, geralmente grandes proprietários e empreendedores. Estes são oriundos de vários setores da agropecuária, mineração e energia, que se beneficiam da instabilidade e elevação dos riscos associados à posse da terra e se empenham em adquirir as pequenas propriedades, assumindo as incertezas inerentes à questão dos direitos de propriedade e consolidando grandes extensões contínuas de terras.

Esse modelo do desenvolvimento agrário brasileiro, marcado de certa forma por um bimodalismo da sua estrutura, onde encontra-se um "setor principal", definindo e pautando os rumos do "progresso" e o "desenvolvimento econômico" regional, acompanhado por um "setor secundário", marginal, que praticamente funciona respondendo às pressões e oportunidades definidas pelo principal, revela um flagrante contraste com o que ocorreu nos países hoje considerados desenvolvidos (Veiga, 2000), "em todas as agriculturas do Primeiro Mundo, fazendas empregando levas de assalariados tornam-se mero apêndice de uma massa de estabelecimentos de médio porte tocados essencialmente pelo trabalho familiar. A tal ponto que grandes fazendas e assalariados agrícolas são ótimos indicadores de subdesenvolvimento".

As dificuldades enfrentadas pelos colonos iniciam-se na fase de assentamento e delimitação dos lotes e prolongam-se em função da morosidade na regularização da situação fundiária, da insuficiente disponibilidade de linhas de crédito agrícola e apoio técnico, por parte do Governo Federal, entre outras tantas deficiências, gerando verdadeiras barreiras ao êxito dos pequenos agricultores familiares. Existem ainda as facilitações e as redes de relações político institucionais que favorecem a constituição e manutenção da chamada "oligarquia fundiária" e de um modelo de organização produtiva rural do tipo "patronal". Veiga (1996) faz uma análise da política agrícola nacional, ressaltando que: "contrariamente ao que ocorreu na Europa do Leste e, com raras exceções, no vasto capitalismo periférico, todos os governos do chamado primeiro mundo adotaram, desde o início do século 20, políticas agrícolas e fundiárias que favoreceram a progressiva afirmação da agricultura familiar e inibiram o desenvolvimento da agricultura patronal. O Brasil é um dos exemplos mais chocantes da opção inversa, isto é, de enorme tolerância com a oligarquia fundiária e claro favorecimento da agricultura patronal".

A esse bimodalismo do padrão de ocupação do espaço amazônico (Becker, 2005, p. 82), atribui as responsabilidades pelo "gigantesco confronto" entre a expansão da agroindústria da soja, da pecuária e da extração da madeira, de um lado, e o uso conservacionista da floresta, de outro, defendido pela produção familiar, pelos ambientalistas e por diversas categorias de cientistas.

A ausência de uma política agrária mais consistente para a região amazônica, que não fosse limitada, simplesmente, a povoar os espaços "vazios", acabou favorecendo o estabelecimento e manutenção das antigas estruturas das relações sociais e agrárias, privilegiando abusivamente as classes economicamente dominantes.

Apesar dos avanços obtidos com o decreto 1.946, de 28 de junho de 1996, que criou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar-PRONAF, uma mudança mais significativa nesse quadro, no qual a agricultura familiar ainda vive à sombra das grandes oligarquias patronais, brigando pelas "migalhas" que lhes são dispensadas, só poderá ocorrer como aprofundamento a ampliação de três domínios prioritários, definidos por Veiga (1998): "domínio educacional", pautado, principalmente, no ensino regular básico oferecido em escolas rurais, na formação profissional e na consolidação de redes de extensão e/ou assistência técnica e suas relações com o sistema de pesquisa agropecuária; "domínio fundiário", no qual seriam favorecidos, no processo de aquisição de terras, jovens agricultores familiares com boas perspectivas profissionais e experiência nas atividades produtivas regionais; "domínio creditício", constituindo uma forma decisiva de apoio, através da criação de uma linha de crédito especial, dirigida ao jovem agricultor familiar.

Considerando o histórico da política agrária nacional e a conseqüente e notável explosão das taxas de desmatamento, impulsionada principalmente pelo desenvolvimento e expansão da atividade agropecuária de grande escala, datada do início da década de 80, o Governo Federal, prevendo e já provando as conseqüências da ocupação acelerada e desordenada, resultado das suas próprias políticas e ações, resolveu limitar e reduzir os incentivos à ocupação da região Amazônica, pensando que com essa medida recuperaria o controle da situação e diminuiria as alarmantes taxas de erradicação da cobertura florestal natural que vinha assistindo e, de maneira ineficiente, tentando controlar (Margulis, 2004).

Com a persistência das altas taxas de desmatamento observadas na Amazônia, mesmo após a suspensão e redução dos subsídios governamentais, passou-se a acreditar que os desmatamentos estavam sendo efetuados pelos pequenos agricultores, através dos processos produtivos de subsistência rudimentares. Alguns trabalhos contestaram essa visão e afirmaram que as altas taxas de desmatamento estariam forte e intimamente atreladas a um processo de formação de grandes áreas de pastagem para especulação com o valor da terra (Fearnside, 1993; Reydon, 2001).

Se durante a década de 70 os incentivos fiscais representaram um importante papel para a construção de infra-estrutura e a base industrial, associadas à produção pecuária, assim como financiaram parte dos custos para o desenvolvimento de técnicas de produção pecuária na Amazônia, há algum tempo os incentivos fiscais não têm mais um papel tão relevante na lista de fatores que explicam a produtividade da produção pecuária observada (Margulis, 2004).

Isso fez com que, mesmo após a drástica redução dos incentivos fiscais, como a estratégia adotada pelo Governo Federal para tentar controlar o avanço da fronteira agropecuária na Amazônia, as taxas de desmatamento se mantivessem em patamares elevados e alarmantes. Atualmente, a Amazônia encontra-se em uma segunda fase de ocupação, na qual os incentivos fiscais têm um papel reduzido e a rentabilidade obtida com a prática de atividades extrativistas, pecuárias e agrícolas transformou-se na principal força propulsora da expansão e transformação da fronteira (Alencar et al., 2004; Becker, 2005, p. 81).

A ausência de políticas públicas e ações governamentais eficientes, tanto para subsidiar e gerenciar os processos de ocupação da Amazônia, idealizados pelo próprio Governo Federal no passado, quanto para coibir os exageros e abusos do mesmo, permitiu que nas últimas três décadas o processo de ocupação se intensificasse de forma rápida, desenfreada e desordenada.

Segundo dados do Projeto de Estimativa de Desflorestamento da Amazônia – PRODES (INPE, 1999), apresentados na Tabela 39, em média são desmatados, aproximadamente, 18.000km2/ano de floresta na Amazônia, sendo que o Estado do Mato Grosso é responsável por mais de 35% dos desmatamentos e, juntamente com o Estado do Pará, represente mais de 67% dos desmatamentos da região.

Tabela 39: Área desmatada na Amazônia Legal, no período de 1978 a 2003.

Desmatamento na Amazonia Legal (km2/ano) período de 1978 a 2003

77/88 (#)

88/89

89/90

90/91

91/92

92/94 (# #)

94/95

95/96

96/97

97/98

98/99

99/00

00/01

01/02

02/03

%

AC

620

540

550

380

400

482

1208

433

358

536

441

547

419

727

549

3,0

AP

60

130

250

410

36

9

18

30

7

4

0,4

AM

1510

1180

520

980

799

370

2114

1023

589

670

720

612

634

1016

797

5,0

MA

2450

1420

1100

670

1135

372

1745

1061

409

1012

1230

1065

958

1330

766

6,2

MT

5140

5960

4020

2840

4674

6220

10391

6543

5271

6466

6963

6369

7703

7578

10416

35,7

PA

6990

5750

4890

3780

3787

4284

7845

6135

4139

5829

5111

6671

5237

8697

7293

31,9

RO

2340

1430

1670

1110

2265

2595

4730

2432

1986

2041

2358

2465

2673

3605

3463

13,7

RR

290

630

150

420

281

240

220

214

184

223

220

253

345

54

326

1,5

TO

1650

730

580

440

409

333

797

320

273

576

216

244

189

259

136

2,6

total

21050

17770

13730

11030

13786

14896

29059

18161

13227

17383

17259

18226

18165

23266

23750

100

(#) Média da década (Fonte: INPE, 1999).

(# #) Média do biênio

Se considerarmos que a quantificação anual das áreas desmatadas, efetuada pelo Instituto de Pesquisas Espaciais, no âmbito do Projeto PRODES, não inclui nos seus mapeamentos as áreas onde a floresta está passando pelo processo de extração seletiva de madeira, nem as áreas afetadas pelos incêndios florestais, podemos concluir que existe um "desmatamento oculto" na Amazônia que, se computado, agregaria valores bastante elevados, provavelmente duplicando as taxas apresentadas (Alencar et al., 2004, p. 40). No caso do Estado do Mato Grosso, essa situação deve ser ainda pior, dada a grande porção do "arco de desmatamento", que se encontra inserida no mesmo e a relação entre extração seletiva de madeira e posteriormente a abertura e desmatamento da floresta (Santos et al., 2001, p. 1754).

Esse histórico de ocupação ilustra a enorme ineficiência das estratégias de monitoramento e gestão da ocupação, adotadas para o espaço amazônico. Aponta ainda para a necessidade do reconhecimento da Amazônia como um território detentor de uma significativa heterogeneidade ambiental, cultural, econômica etc. que, como tal, deve ser considerado e avaliado no momento da definição de novas políticas públicas que pretendam desenvolver, nos seus domínios, alguma forma de exploração mais racional e sustentável dos recursos naturais.

Analisando esse histórico da evolução da questão agrária e da definição de macropolíticas para a ocupação do espaço amazônico, Costa (2005, p. 145) propõe que um novo desenvolvimento para a Amazônia exige uma nova institucionalidade federal na região, com uma requalificação do conjunto de aparatos institucionais e das normas que expressam o poder federal na região. O autor sugere ainda a necessidade de reorientação das instituições federais para que elas passem a considerar o princípio da diversidade, ao invés do princípio da padronização e da homogeneidade.

PROCESSO DE OCUPAÇÃO: IMPACTOS AMBIENTAIS E ATORES ENVOLVIDOS

Embora a incidência das queimadas não possa ser totalmente nem diretamente relacionada à abertura de novas frentes para a agricultura (Miranda e John, 2000: p. 167), existe uma relação bastante forte entre esses dois eventos, principalmente na região circunscrita ao arco de desmatamento (Pereira et al., 2000; Nepstad et al., 2002). Ferreira et al. (2005, p. 158) estimam que 80% dos desmatamentos observados na região da Amazônia Legal ocorrem motivados pelo processo de formação das pastagens para a criação extensiva de gado.

O fato de o fogo ser amplamente utilizado como ferramenta do processo de erradicação da vegetação florestal natural, por se tratar de um instrumento de baixo custo para o especulador, colono ou agricultor, faz com que a sua ocorrência esteja, possivelmente, relacionada à expansão da fronteira agrícola de maneira prioritária. Estudos mais detalhados da dinâmica econômica e sobre os atores do processo de expansão da fronteira mostram, no entanto, que o fogo está associado a várias atividades, tanto da "fronteira especulativa", quanto da "fronteira consolidada" (Margulis, 2004).

O processo de expansão da fronteira, instaurado nos anos 70 através dos programas governamentais de ocupação da Amazônia, abriu espaço para a disseminação da pequena produção familiar, com os inúmeros programas de assentamentos rurais, responsáveis pela dinâmica política e econômica de certas regiões da Amazônia brasileira naquele período. No entanto, mais recentemente, houve, nesse cenário inicial, o surgimento de um novo padrão de apropriação da terra, imposto pela presença de novos atores, representados por fazendeiros e empresários capitalizados da mineração, energia e extração de madeira, que modificaram a lógica de funcionamento anterior, baseada prioritariamente na pequena produção familiar (Castro et al., 2002).

Essas alterações, na composição da população inicial, fizeram com que o conjunto de atores que compõe atualmente a atividade de pecuária na Amazônia seja composto principalmente pelos próprios colonos, migrantes de outras regiões, beneficiados pelas linhas de crédito que contemplaram os assentamentos; madeireiros, buscando diversificar seus investimentos com atividades consideradas mais seguras como a pecuária; comerciantes, oriundos de diversas atividades como, por exemplo, o garimpo, o comércio das cidades, da madeira etc., que vêm também em busca de maior estabilidade para seus investimentos; ex-garimpeiros, que em função do esgotamento das lavras e do acúmulo de capital, buscam uma alternativa de produção mais segura; pequenos e médios pecuaristas, oriundos de outras regiões do país, que vieram em busca de aumentar suas propriedades e encontraram um cenário favorável frente ao baixo preço das terras e às dificuldades dos colonos assentados pelo INCRA (Castro et al., 2002; Romeiro, 1999a).

Do ponto de vista do processo de ocupação e abertura de novas áreas, parece existir uma articulação entre madeireiros e pecuaristas. Após a exploração e retirada da madeira de interesse comercial, os pecuaristas encontram uma maior facilidade para penetrar e ocupar aquelas áreas onde as madeireiras já exploraram, utilizando-se das estradas e caminhos abertos pelo processo anterior. Ocorre que na Amazônia, em função da freqüente ausência ou conivência do Estado e da enorme extensão de terras devolutas, a grilagem segue à frente do madeireiro, garantindo sua permanência e a exploração da madeira, muitas vezes através do estabelecimento de conflitos e violência (Castro et al., 2002). Essa é uma fase de exploração que não está ligada diretamente ao uso do fogo, apesar de determinar de forma clara e definitiva o início do processo de ocupação, desmatamento e o avanço, irreversível, da fronteira agrícola.

Ainda no trabalho de Castro et al. (2002, p. 29), fica claro o movimento inicial de ocupação e a relação desenhada entre madeireiros e os demais atores que os sucedem.

"A exploração da madeira vai à frente abrindo as terras e facilitando a entrada de novos atores não interessados na madeira, mas em outras atividades, como a pecuária, o garimpo, a pequena produção etc. A madeira orienta a direção do desmatamento."

Apesar da percepção sobre o esgotamento do recurso, os atores envolvidos no processo de extrativismo seletivo de madeira não repensam as práticas predatórias adotadas, pois sabem que a atividade pecuária, intimamente relacionada à atividade madeireira, mantém suas oportunidades econômicas9, seja através da mudança da atividade que executam, passando da extração da madeira para a pecuária, seja pelo mercado de terras, através da venda das suas propriedades para os pecuaristas.

A chegada e estabelecimento das serrarias sinaliza o início do processo de expansão da fronteira agrícola e de apropriação da terra observado nos estados do Pará e do Mato Grosso, que invariavelmente vem seguido da ocupação pela pecuária extensiva e, mais recentemente, pela produção de grãos (Alencar et al., 2004; Castro et al., 2002; Becker, 2001, Anderson, 1990, p. 9).

O uso do fogo se faz, principalmente, associado à segunda etapa de ocupação, na qual o processo de implantação e estabelecimento da pecuária se beneficia das queimadas como instrumento facilitador e redutor dos custos da abertura e eliminação da vegetação remanescente. Nesse processo, o valor da "madeira branca", madeira remanescente com menor valor comercial em função da sua abundante oferta e dos elevados custos de sua extração e transporte, não compensa os gastos e, portanto, a queima é a prática mais usualmente adotada para sua eliminação (Boserup, 1987).

Existem diferentes processos envolvidos no desenvolvimento e migração da atividade madeireira para a pecuária. A extração da madeira de lei, a limpeza e a abertura das áreas para a pecuária, reconhecidos vilões promotores dos desmatamentos e das queimadas, podem ser efetuados de várias maneiras e por diferentes atores (Margulis, 2004; Castro et al., 2002, Fearnside, 1990a, p. 234). Simplificadamente pode-se destacar: grileiros que ao se associarem com os madeireiros acompanham e lucram com o trabalho de extração da madeira de valor comercial e, posteriormente, vendem a terra para pequenos agricultores ou diretamente para os pecuaristas; pequenos agricultores (1) residentes, assentados nos loteamentos promovidos pelo Governo Federal, que após a extração e venda da madeira com elevado valor comercial existente nos seus lotes, promovem a limpeza e abertura dos mesmos como uma forma de agregar valor à terra, para posteriormente comercializá-los com os pecuaristas e se deslocarem para novos assentamentos. Funcionam nesse caso como mão-de-obra informal no processo de estabelecimento da pecuária; pequenos agricultores (2) especuladores da terra que adquirem os lotes, após a extração da madeira comercial e, se beneficiando das pequenas estradas e caminhos abertos pelos madeireiros, executam o trabalho de limpeza da área e formação da pastagem. São uma espécie de intermediários especializados na eliminação do remanescente florestal, vivendo dos lucros provenientes da agregação de valor à terra; médios e grandes pecuaristas que acompanham o movimento e migração das grandes madeireiras e se apropriam das terras já exploradas, aproveitando o baixo custo das mesmas, provenientes dos altos riscos que assumem, decorrentes da falta de documentação e de delimitação clara das mesmas.

Particularmente no Estado do Mato Grosso, aliada a essa trajetória espacial de atores e diferentes usos de recursos, há mais uma categoria produtiva se inserindo no processo de ocupação e posse da terra, agregando maior entropia nas relações sociais e no mercado de valores econômicos e ecológicos, representada pelos grandes agricultores, sobretudo os produtores de grãos. Os empresários regionais não questionam o emergente potencial da agricultura para a região, frente à recente percepção do esgotamento da madeira e à lucratividade da pecuária e definem: "a questão é saber quanto tempo ainda durará a atividade de madeira e da pecuária, antes de começar o ciclo de grãos" (Castro et al., 2002, p. 33).

O cultivo de soja, no Estado do Mato Grosso, tem obtido resultados econômicos tão expressivos que, supostamente, a sua inserção no processo de dinâmica de uso das terras tem, em alguns casos, assumido o papel das atividades pioneiras10 na substituição da floresta primária (Alencar et al., 2004, p. 38), ou seja, novas áreas de floresta têm sido desmatadas para implantação de culturas de soja, sem passar pela tradicional substituição da floresta pelo pequeno produtor, pela pecuária até chegar ao cultivo de grãos. Esta hipótese é duramente criticada e refutada no trabalho desenvolvido por Brandão et al. (2005, p. 12), primeiramente pelo simples fato dos autores julgarem não ser possível abrir e usar no mesmo período de tempo uma área de vegetação nativa de cerrado, e muito menos de floresta, e também por considerarem que as áreas mais distantes de vegetação natural estão muito distantes da infra-estrutura necessária para o desenvolvimento de uma atividade como a associada à produção de soja.

Alencar et al. (2004, p. 35) consideram que apesar de economicamente viável, a ocupação direta pela soja em áreas de floresta ainda é modesta, embora ela tenha responsabilidade indireta sobre as elevadas taxas de desmatamento no Estado do Mato Grosso. Segundo esses mesmos autores, entre os fatores que tornaram o cultivo da soja uma atividade altamente lucrativa e interessante, estão: 1) o surto da doença da "vaca louca" na Europa e a substituição da proteína animal das rações pela vegetal; 2) o aumento da demanda da China por carne de frango e suína, aumentando as demandas nacionais pela soja; 3) a redução dos custos de transporte da soja; 4) o desenvolvimento de cultivares de soja mais adaptados para os diferentes cultivos nos cerrados e nas regiões quentes e úmidas da Amazônia; 5) a instalação de unidades de armazenamento e comercialização na região e 6) a baixa produção de soja nos EUA no ano de 2003 que elevou ainda mais a demanda pela soja brasileira.

Esse processo, motivado pela globalização e, conseqüentemente, pela formatação de mecanismos facilitadores das exportações e do comércio internacional, tem proporcionado o aumento do interesse, e das demandas para os produtos da agropecuária brasileira. A abertura dessas novas oportunidades de mercado tem sido apontada como responsável pela geração de graves impactos ambientais, à medida que pode elevar a pressão sobre os recursos naturais, para a produção de "commodities", obrigando os pequenos produtores a se deslocarem para áreas marginais, cujos ecossistemas são mais frágeis, como no caso da fronteira agrícola brasileira (Romeiro, 1999d).

A exploração e utilização dos recursos ambientais, sem o desenvolvimento de reflexões que considerem a existência da capacidade de suporte ambiental para absorver os impactos gerados, desconsiderando, portanto, a existência de limites ao desenvolvimento, parece ser o modelo seguido na expansão da fronteira agrícola na Amazônia. Paralelamente, a aparente "inesgotabilidade" dos recursos naturais mascara a existência de limitações à expansão do subsistema econômico, em detrimento do ecológico, gerando dificuldades para a conscientização dos agentes promotores do desenvolvimento, sobre a existência e a necessidade da adoção do princípio da sustentabilidade, com o objetivo de promover e consolidar o desenvolvimento econômico da região, considerando a importância da sua complementariedade com o subsistema ecológico (Romeiro, 1999b, 1999c; Mazoyer e Roudart, 2001, p.82).

Em uma análise mais global do processo e do movimento e dinâmica dos agentes e dos impactos, pode-se propor a passagem pela etapa ascendente da configuração de uma curva de Kuznets ambiental, onde os impactos ambientais gerados pelo crescimento econômico são vistos como um efeito colateral ruim, mas inevitável (Romeiro, 2004: p.12).

A redução dos impactos ambientais gerados pelas atividades agropecuárias passa, inevitavelmente, pelo progresso e desenvolvimento de inovações tecnológicas que, muitas vezes, apesar de se constituírem como respostas viáveis, do ponto de vista econômico, para o atendimento de alguma restrição ambiental imposta, podem não ser adequadas no sentido de evitar a tempo perdas irreversíveis (Romeiro e Salles Filho, 2001). É preciso, portanto, criar condições econômicas, político-institucionais e culturais para a implementação de uma estratégia de mudança tecnológica capaz de se antecipar aos problemas (Romeiro et al., 2001).

 

O USO DO FOGO COMO PARTE DO PROCESSO PRODUTIVO E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS

Homma (1999), compactuando com o que postulou Boserup (1987), afirma que a abundância de terras da Amazônia condicionou uma regressão dos processos produtivos adotados. A tese central do trabalho de Boserup (1987) afirma que são o crescimento e adensamento populacional que condicionam o desenvolvimento tecnológico e não o contrário, ou seja, o desenvolvimento tecnológico que proporciona e possibilita o crescimento populacional. Essa tese parece ser confirmada com os efeitos da aparente infinitude de recursos naturais a serem explorados na Amazônia, ou seja, a baixa pressão ou competição por recursos, faz com que não haja muita, senão nenhuma, preocupação com questões relativas à eficiência e desempenho dos processos produtivos. Uma vez que os recursos naturais são aparentemente inesgotáveis, haverá sempre a possibilidade de ir buscá-los e explorá-los mais adiante, não havendo a necessidade de promover o desenvolvimento tecnológico ou aumento de eficiência dos processos produtivos.

Talvez isso explique a lentidão da evolução dos sistemas produtivos adotados tradicionalmente na região amazônica, que perpetuam o uso de práticas e técnicas rudimentares e "ultrapassadas". A prática de queimadas é uma dessas técnicas, disseminadas em larga escala pelos processos produtivos, possuindo dezenas de finalidades e aplicações e estando relacionada, não somente ao processo de abertura de novas áreas, mas também integrando alguns processos produtivos tradicionais (Seroa da Motta et al., 2002, Nepstad et al., 1999a).

Nepstad et al. (1999b) desenvolveram um importante trabalho que buscou identificar as motivações e os diferentes tipos de impactos provocados pelas queimadas na região amazônica, envolvendo diferentes finalidades no seu uso, tais como: formação de áreas agrícolas, formação de pastagens, queimadas em áreas de pastagens já formadas etc. Ainda nesse trabalho, os autores discutem e definem, claramente, a forte relação existente entre o corte seletivo de árvores com valor comercial, o aumento da suscetibilidade da floresta ao fogo e, finalmente, o desmatamento que culminará, quase invariavelmente, com a formação de pastagens.

Em pequenas, médias e grandes propriedades, o fogo é tradicionalmente utilizado como um promotor do aumento da fertilidade dos solos, pois provoca a queima da cobertura vegetal existente e, apesar de parte dos nutrientes ser transportado para a atmosfera pela fumaça, uma boa parte é depositada no solo sob a forma de cinza, aumentando a quantidade de nutrientes disponíveis para o crescimento e desenvolvimento das culturas que são implementadas a seguir. Buscando avaliar a eficiência desse processo de queima de biomassa vegetal com o objetivo de agregar nutrientes ao solo, Potter et al. (2001) fizeram um ensaio em uma área do estado de Rondônia e obtiveram valores de nutrientes depositados no solo, após o corte e queima da vegetação natural, compatíveis com a demanda correspondente a um período de dois anos de atividades agrícolas para subsistência.

Na frente de expansão da fronteira agrícola, a origem das queimadas está relacionada a um processo intencional de uso do fogo, com o objetivo de auxiliar o agricultor a remover os resíduos da vegetação florestal derrubada, promovendo a "limpeza" das áreas para a implementação posterior da agricultura e da pecuária e, também, para promover a adubação natural do solo como foi sugerido anteriormente.

Na Amazônia, as estimativas indicam que apenas 16% das queimadas intencionais estão relacionadas à abertura de novas áreas para a atividade agropecuária, o restante é representado por queimadas que atingem, de forma "acidental", áreas de pastagens, áreas agrícolas e pelas queimadas que, ao escaparem dos domínios do agricultor, se transformam em incêndios e atingem áreas de floresta (Nepstad et al., 1999a).

A ocorrência de incêndios florestais, na maioria das vezes, está relacionada à não adoção de medidas preventivas e de segurança, acarretando a perda do domínio sobre as áreas queimadas. Os incêndios, como aqueles ocorridos no Estado de Roraima, em abril de 1998 (EMBRAPA, 1998; Miranda et al., 1998), podem provocar danos ao patrimônio público e privado, destruindo linhas de transmissão de energia, cercas de fazendas e as próprias residências, além de atingir áreas de proteção como parques nacionais e reservas biológicas e de colocar em risco a própria vida humana, gerando impactos econômicos ainda desconhecidos e insuficientemente estimados (BRASIL, 2001; Seroa da Motta, 2002).

Independentemente das justificativas e motivações que condicionam a adoção do uso do fogo, os impactos ambientais provocados pelas queimadas, intencionais ou não, têm preocupado as comunidades científica e ambientalista e a sociedade civil em geral.

Esse problema reveste-se de grande complexidade, uma vez que o fogo afeta diretamente as características físico-químicas e a biologia dos solos (UNEP, 2004, p. 211). Destruindo remanescentes florestais e outros tipos de cobertura vegetal, as queimadas fragmentam a paisagem, afetam a biodiversidade, alteram a dinâmica dos ecossistemas, expõem os solos a processos erosivos e provocam sedimentação nos cursos d’água (EMBRAPA, 1991; Lovejoy, 2000), além de alterar os estoques de carbono das camadas mais profundas dos solos (Nepstad et al., 1994).

Um outro impacto importante das queimadas, sobretudo na região amazônica, é o gradativo aumento da vulnerabilidade das florestas às queimadas, após os eventos de incêndios florestais. Como efeito de uma queimada que tenha conseguido penetrar no interior de uma floresta, o que se observa é a mortalidade de algumas árvores adultas e a conseqüente abertura do dossel, resultando na redução e perda da capacidade de manutenção da umidade no interior da floresta, aumentando sua inflamabilidade e tornando-a, desta forma, mais susceptível à incidência de novas queimadas (Uhl e Kauffman, 1990; Shulze, 1998; Nepstad et al., 1998, 1999b; Cochrane et al., 1999; Cochrane, 2000; Alencar et al., 2004).

Além disso, a redução da massa florestal e a fumaça emitida podem afetar o regime de chuvas local, gerando uma redução nos níveis de precipitação (Nobre et al., 1991; Rosenfeld, 1999; Andreae et al., 2004), com o conseqüente agravamento dos efeitos dos períodos de seca, estabelecendo assim uma nova relação de causa e efeito bastante forte e comprometedora da perenidade da floresta (Nepstad et al., 1995, 2002).

Uma tentativa de estimar o custo econômico do fogo na Amazônia é apresentada no trabalho de Seroa da Motta et al., (2002) e foi desenvolvida através de estimativas de perdas e danos, relacionados à ocorrência de incêndios. Considerada, pelos próprios autores, como uma avaliação econômica sub-dimensionada, essa estimativa produziu valores de referência extremamente simplificados e irreais, uma vez que não considerou perdas de produtos vegetais não madeireiros como, por exemplo, castanhas, cipós, óleos e plantas medicinais, custos da eliminação da fauna, valor dos serviços ecológicos da floresta em pé, assim como valores éticos e culturais, entre muitos outros.

Nesse trabalho, o cálculo do custo econômico de uso do fogo na Amazônia brasileira foi baseado, exclusivamente, sobre: custos associados às perdas agropecuárias, tais como cercas, benfeitorias e pastagens; custos com doenças respiratórias, calculados sobre o número de casos de atendimento decorrente de doenças do aparelho respiratório e seus respectivos custos; perdas florestais, estimadas sobre as perdas de madeira com valor comercial provocadas pelos incêndios e, finalmente, a emissão de CO2, estimada a partir dos cálculos dos custos marginais de mitigação envolvidos na redução das emissões, advindas exclusivamente da queima de biomassa vegetal. Os resultados indicaram um custo econômico, médio, do uso do fogo na Amazônia brasileira, para o ano de 1998, que variou entre o mínimo de U$ 102 milhões e o máximo de U$ 5.087 milhões.

Se nas escalas local e regional as queimadas provocam uma série de impactos ambientais importantes e, como já mencionamos, ainda mal dimensionados, globalmente está comprovado que elas também alteram a composição química da atmosfera causando, por exemplo, o agravamento do efeito estufa e que, por sua vez, pode provocar significativas mudanças climáticas em todo o mundo.

Seguramente, de todos os contextos envolvidos no âmbito das discussões sobre os impactos negativos das queimadas agrícolas e florestais, o que mais tem preocupado e merecido destaque da comunidade cientifica nacional e internacional é a sua relação com as mudanças climáticas globais, provocadas pela emissão de gases causadores do efeito estufa.

Na coleção Ecological Studies, Fire in the Tropical Biota: ecossistem processes and global challenges (Goldammer, 1990), vários trabalhos publicados são resultantes de esforços relacionados à compreensão dos impactos das queimadas sobre os biomas tropicais, sobretudo no que diz respeito aos seus efeitos condicionantes das mudanças climáticas globais (Fearnside, 1990b; Hao et al., 1990; Mueller-Dombois e Goldammer, 1990; Ward, 1990).

Embora ainda haja alguma incerteza e imprecisão quantitativa sobre os efeitos das emissões dos gases de efeito estufa em relação ao atual aquecimento global, Woodwell et al. (1998) ressaltam que a gênese do aumento das emissões está relacionada diretamente a alguns dos mais sérios problemas da humanidade que são: o crescimento populacional e o conseqüente crescimento das demandas por alimento, fibras, terra e energia. Basicamente, essas necessidades são supridas através da utilização de combustíveis fósseis e mudanças no uso das terras, envolvendo desmatamentos que, além de emitirem carbono para a atmosfera, reduzem os estoques de carbono da biosfera.

Uma estimativa do balanço global de carbono, resultante da relação entre as emissões e o seqüestro, foi desenvolvida por Houghton, (1996a), onde além da estimativa do fluxo de carbono em função das mudanças de uso das terras (conversão de floresta para agricultura, abandono das terras agricultáveis, colheitas e regeneração da floresta) foram feitos, também, para efeito de comparação, cálculos de biomassa florestal através da utilização de dados provenientes de inventários que permitiram a estimativa de conversão direta. Os resultados desse estudo, apresentados na Tabela 40, mostraram a composição final de valores e o balanço resultante.

Tabela 40: Composição global das emissões e seqüestro de carbono (1015gC/ano)

Balanço atmosférico

combustível fóssil

mudanças de uso das terras

oceanos

residual

florestas do Norte

3,2 (± 0,2) =

(+) 5,5 (± 0,5)

(+) 1,6 (± 0,5)

(-) 2,0 (± 0,8)

(-) 1,1 (± 1,1)

(-) 0,8 (± 0,4)

(Fonte: Houghton, 1996a)

No caso do Brasil, as mudanças no uso das terras são as principais responsáveis pelas queimadas e também pelas alterações mais severas do fluxo de carbono para a atmosfera. Houghton (1996b) defende que os desmatamentos, sobretudo nas regiões tropicais, somente poderão ser reduzidos através do desenvolvimento de uma agricultura sustentável e define três alternativas para seqüestrar carbono através dos sistemas florestais: aumento das áreas florestadas, redução dos cortes seletivos com aumento de sistemas de produção que apresentem períodos mais longos e manejo do clima para garantir que o aumento da temperatura não altere o carbono estocado nos ecossistemas florestais.

Os gases, responsáveis pelas mudanças climáticas globais, são provenientes de diversas ocorrências e atividades, antrópicas ou naturais, e possuem uma importância relativa com taxas de permanência na atmosfera diferenciadas. A Tabela 41 mostra a composição dos gases mais importantes na constituição desse efeito e oferece indicações para avaliações e análises que tenham como objetivo o combate ou a reversão do quadro atual de aquecimento global.

 

Tabela 41: Contribuição relativa dos gases-traço para o efeito estufa (EMBRAPA, 2004a).

Gás-traço

Contribuição

Gás Carbônico CO2

60%

Ozônio O3

8%

Óxido Nitroso N2O

5%

Metano CH4

15%

Clorofluorcarbonetos CFCs

12%

As taxas de permanência desses gases causadores do efeito estufa na atmosfera também devem ser consideradas, para que se possa discutir, estruturar e adotar medidas que considerem os seus efeitos a médio e longo prazo, uma vez que a "simples" redução das taxas de emissões atuais não solucionaria os problemas causados, dada a persistência desses gases na atmosfera. A Tabela 42 oferece uma visão mais complexa das origens, interações e perenidade desses gases.

Tabela 42: Origem e características dos gases traço atmosféricos significantes para o efeito estufa (EMBRAPA, 2004b).

Caract.

CO2

CH4

N2O

CFCs

O3

CO

H2O

Principais fontes antrópicas

combust. fósseis

cultivo de arroz inundado

fertilizantes

refrigeradores

queima de biomassa

combustíveis fósseis

conversão do uso das terras

desflorestamento

combustíveis fósseis

conversão do uso das terras

aerossóis

queima de biomassa

irrigação

queima de biomassa

processos industriais

Tempo de vida na atmosfera

50 – 200 anos

10 anos

150 anos

60 - 100 anos

semana a meses

meses

dias

Taxa atual de aumento

0,5%

0,9%

0,3%

4%

0,5-2,0%

0,7-1,05%

?

Nota-se que, no caso do Brasil, quase todos os principais gases causadores do efeito estufa têm, direta ou indiretamente, alguma origem relacionada à questão dos desmatamentos e das queimadas. Desflorestamento, conversão do uso das terras e queima de biomassa são citadas como as principais fontes antrópicas de emissão de seis dos sete principais gases de efeito estufa relacionados e, entre eles, os principais (metano, clorofluorcarbonetos e gás carbônico) podem permanecer na atmosfera por mais de 10 anos.

Observando as duas tabelas apresentadas, nota-se que o gás carbônico, principal componente, responsável por 60% da contribuição para o efeito estufa, possui suas emissões relacionadas principalmente à queima de combustíveis fósseis e aos processos de desflorestamento e, conseqüentemente, à queima de biomassa. O principal agravante dessa constatação é o fato de que o gás carbônico apresenta um tempo de vida na atmosfera extremamente longo, podendo chegar a 200 anos.

Para promover uma significativa redução nas taxas globais das emissões do gás carbônico, provenientes das atividades antrópicas, alguns países desenvolvidos como, por exemplo, os Estados Unidos e o Japão, necessitariam, sobretudo, reduzir as suas taxas de emissão pela queima de combustíveis fósseis, enquanto que no caso de alguns países em desenvolvimento, como o Brasil, significaria priorizar o controle das taxas de desmatamento e da prática de queimadas, tanto para expansão da fronteira quanto nas práticas agrícolas de manejo (UNEP, 2004, p. 227).

Para dimensionar o impacto das atividades antrópicas sobre as emissões totais de CO2 para a atmosfera, Fosberg et al., (1990) comparam dados anteriores à era industrial, quando a concentração de CO2 na atmosfera era da ordem de 270ppm, com dados coletados no início da década de 90, quando essa concentração já estava próxima de 350ppm.

Embora haja uma considerável indeterminação quantitativa dos impactos e conseqüências das alterações provocadas pelo homem no meio ambiente, Fosberg et al., (1990) propõem um esquema qualitativo (Figura 40), ressaltando os impactos do uso do fogo no processo de degradação da floresta tropical, para as mudanças climáticas locais e suas conseqüências no avanço do processo de savanização ou de formação dos cerrados, proposto por Goudie, (1993).

Pivello e Coutinho (1992; 1996), desenvolveram um modelo qualitativo, demonstrando que a freqüência das queimadas, associada ao seu tipo, época do ano, fisionomia da vegetação e intensidade, são fatores determinantes no processo de savanização, por estarem relacionados, sobretudo, às variações das taxas de emissão e perda de nutrientes para a atmosfera.


Figura 40: Papel do fogo no processo de degradação da Floresta Tropical. (Fonte: Fosberg et al., 1990).

Embora alguns autores afirmem ser praticamente improvável não haver relação entre as mudanças climáticas globais e as atividades antrópicas (Dias, 1999), ainda existe uma significativa indeterminação entre o grau de correlação das atuais taxas de emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global. Indefinições como essa ainda não foram devidamente elucidadas e continuam a agregar grande entropia nas discussões sobre a formatação de políticas públicas e medidas de comando e controle a serem adotadas. Apesar de todas as incertezas que cercam o assunto, os efeitos catastróficos que um possível aquecimento global poderia ter sobre a vida na Terra, fazem com que essa discussão assuma uma importância estratégica, capaz de coadunar toda a humanidade em torno dessa questão.

O conceito de vulnerabilidade, definido no documento publicado pela UNEP (2004), aponta a existência de maiores riscos para as populações dos países em desenvolvimento, quando comparados aos riscos dos países desenvolvidos, pela simples capacidade organizacional e econômica de reagir e contornar os problemas, sejam eles relacionados à escassez de alimentos, à destruição de benfeitorias e edificações, ao combate de novas moléstias entre vários outros impactos negativos.

Modificações nos estoques e na circulação das águas, aumento nos níveis dos oceanos e mares, modificações imprevisíveis do clima, com efeitos ainda mais imprevisíveis sobre as alterações da produção mundial de alimentos e modificações dos ecossistemas naturais são apenas algumas das enormes incertezas que cercam esse processo.

Especula-se que a ocorrência de doenças como asma e demais alergias seria favorecida e poderia vir a se transformar em um problema crítico para a humanidade. Questões sobre a incidência de nascimentos de crianças apáticas, apresentando um peso abaixo do normal e com anomalias graves, associadas às condições atmosféricas mais estressantes, também são consideradas relevantes (Holdren e Smith11, 2000, apud UNEP, 2004, p. 2).

Um outro fator que gera preocupação e está relacionado à questão da migração de algumas doenças tropicais como a malária é a criação de situações ecológicas novas, favoráveis à expansão ou alteração das áreas de ocorrência dos vetores destas doenças, com a conseqüente expansão ou alteração da distribuição e ocorrência destas enfermidades, para regiões absolutamente despreparadas para seu controle ou tratamento (IPCC12, 2001a, apud UNEP, 2004, p. 8).

Alterações imprevisíveis na produção de alimentos causadas sobretudo pelas mudanças do regime hídrico e mudanças das temperaturas, podem definir novas zonas para produção agrícola, assim como podem inviabilizar algumas regiões atualmente produtoras. Novamente, o grau de incerteza e imprecisão encontrado nesta questão inviabiliza qualquer análise mais criteriosa.

Em relação à atual disposição das pastagens, a variável que parece ser a mais determinante é a relacionada ao regime hídrico. A acidificação dos solos e da água pode acabar afetando o vigor das pastagens e a viabilidade do desenvolvimento da pecuária em algumas regiões, da mesma forma que pode modificar totalmente os atuais sistemas de produção de pescado e os estoques naturais de peixes (UNEP, 2004, p. 211).

A Figura 41 e a Figura 42 ilustram, de forma sintética, o ciclo do Carbono antes e após a presença do homem dando uma idéia das alterações e dinâmicas impostas pelo homem ao meio ambiente.

Como pode-se notar, a diferença mais marcante e significativa fica por conta da inclusão de uma série de atividades, impostas pelo homem no período pós-industrial, que dependem fundamentalmente da energia retirada de estoques de Carbono, mais estáveis, como o fóssil e o carbono contido nos solos orgânicos, definindo uma disponibilidade de enormes quantidades desse Carbono para a atmosfera, sem contudo proporcionar sua recuperação para reposição dos seus estoques de origem ou outros estoques alternativos (UNEP, 2004, p. 214).


Figura 41: Ciclo natural do Carbono antes do período industrial (Fonte: Schüle,1990).


Figura 42: Ciclo do Carbono considerando as atividades antrópicas contemporâneas (Fonte: Odum, 1985).

Segundo o IPCC13 (2001b, apud UNEP, 2004, p. 5), a concentração atual de CO2 na atmosfera é de 370ppm, representando 30% a mais que em 1750 e as principais causas dessa mudança são a queima de combustíveis fósseis, mudanças no uso das terras e queima de biomassa. Todas fortemente antropogênicas!

Ainda segundo o IPCC (2001b, apud UNEP, 2004, p. 227), o crescimento de setores como indústria e transporte tem sido acompanhado por um constante crescimento das emissões de CO2 - 65% entre os anos de 1980 e 1998 - o que seria uma forte evidência de que o aquecimento global, observado nos últimos 50 anos, pode ser atribuído às atividades humanas.

Em se tratando de América Latina e Caribe, divisão adotada pela UNEP (2004, p. 227), entre os anos de 1991 e 1992 a região foi responsável por cerca de 11% das emissões antrópicas globais de CO2. Desse total, apenas 4,5% são referentes a emissões industriais (principalmente queima de combustíveis fósseis) e 48,5% estão relacionadas às emissões provenientes das mudanças de uso das terras.

Índices publicados pela UNEP (2004, p. 215), para o ano de 1998, apontam uma redução da participação das emissões de CO2 da região que passou a ser responsável pela emissão de 365 milhões de toneladas em 1998, apenas 5,9% das emissões globais totais e indicam, como causa mais provável, os desmatamentos. Enquanto a média global, per capita, de emissões de CO2 de origem industrial é de 1,06 ton/ano, a região possui uma taxa média de 0,73 ton/ano.

FOGO E SEU PAPEL ECOLÓGICO NO BIOMA DOS CERRADOS

Incidindo naturalmente ou provocadas pelo homem, as queimadas ocorrem há milhares de anos nas áreas de cerrado e condicionaram uma evolução desse tipo de vegetação para o convívio com o fogo. A situação climácica de determinadas fisionomias de cerrado depende de uma combinação ou contraposição entre a presença e freqüência de incidência de queimadas e de condicionantes relativas à qualidade do solo (Coutinho, 1982, 1990; Coutinho et al., 1982; Trollope, 1982; Pivello e Coutinho, 1996), como ilustra a Figura 43.


Figura 43: Influência da freqüência de queimadas e dos tipos de solo no estabelecimento das
diferentes fisionomias do domínio do cerrado (Fonte: Coutinho, 2002, p. 83).

Se por um lado o aumento da incidência de queimadas pode priorizar ou favorecer, através de vários mecanismos físicos e químicos, o estabelecimento das formações campestres (Coutinho, 1978a, 1979, 1982; Coutinho et al.,1982; Lacey et al., 1982; Trollope, 1982), por outro lado, a melhora das qualidades do solo pode sustentar ou proporcionar a formação e estabelecimento de fisionomias mais fechadas, incluindo as florestais mesofíticas (Coutinho, 1978b, 1982; Walker e Noy-Meir, 1982).

Algumas evidências da presença de queimadas, em áreas de cerrado, indicam que o homem primitivo, assim como os índios, já faziam uso do fogo, supostamente em atividades de caça, guerras entre tribos etc. Embora não se possa quantificar se as causas das queimadas eram naturais ou antrópicas, não resta dúvida de que elas já ocorriam no Brasil central, muito antes da chegada dos portugueses. Alguns fragmentos de carvão foram encontrados durante escavações realizadas em uma área próxima de Brasília, D.F., e sua datação, pelo método do C14, indicou a presença de uma queimada ocorrida a aproximadamente 1600 anos (Berger e Libby14, 1996, apud Coutinho, 1990). Em outro trabalho sobre datação de carvão, Coutinho (1981, 1990) relata o encontro de fragmentos, a 2 metros de profundidade no solo, durante escavações feitas em uma área de cerrado em Pirassununga, Estado de São Paulo, cuja datação, pelo mesmo método, indicou possuírem aproximadamente 8600 anos.

As datações mais antigas de ocorrência de carvão em áreas de cerrado foram efetuadas a partir de um material pulverulento e dataram aproximadamente 32000 anos (Ferraz-Vicentini, 1999). Embora o autor não tenha tido condições de afirmar com precisão qual sua origem, suspeita-se da carbonização em função da ocorrência de descargas elétricas.

Algumas adaptações da vegetação dos cerrados, tais como a presença de uma casca espessa para proteção de troncos e gemas, presença de xilopódios, caules subterrâneos, capacidade de rebrotar a partir de estruturas subterrâneas como as raízes etc., garantem que após a ocorrência de uma queimada os indivíduos afetados sobrevivam e dêem continuidade ao seu crescimento e às atividades fisiológicas necessárias para a manutenção da vida (Coutinho, 1982).

Além dessas contundentes evidências de adaptações da vegetação dos cerrados à ocorrência de queimadas, ela ainda apresenta algumas particularidades que são importantes como, por exemplo, a estimulação à floração de algumas espécies sensíveis à passagem do fogo. Essa adaptação ao fogo faz com que alguns dias, ou semanas, após uma queimada, todos os indivíduos de uma mesma espécie floresçam, sincronizadamente, aumentando a probabilidade de ocorrerem polinizações cruzadas, entre os indivíduos da mesma espécie, com conseqüências extremamente importantes em relação ao aumento da variabilidade e diversidade genética das suas populações (Coutinho, 1976, 1982). Além disso, o fato das diferentes espécies florescerem em intervalos diferentes após a ocorrência de uma queimada, faz com que haja uma diminuição da competição interespecífica, pelos agentes polinizadores, insetos, por exemplo, com conseqüente aumento das taxas de cruzamento e de fecundação para cada espécie.

Ao florescerem logo após a passagem do fogo, essas espécies reduzem, também, as chances de que a ocorrência de uma nova queimada venha a interromper seu ciclo reprodutivo. Mais do que isso, ao iniciar o ciclo reprodutivo nesse momento, está garantida a presença de significativas quantidades de nutrientes, nas camadas mais superficiais do solo, o que é sem dúvida um elemento importante para o sucesso no estabelecimento e crescimento dos novos indivíduos (Coutinho, 1982).

Como se não bastassem essas estratégias reprodutivas da vegetação dos cerrados, associadas aos eventos das queimadas, ainda existem outras relacionadas à senescência de certos tipos de frutos que só se abrem e liberam suas sementes, após serem submetidos às altas temperaturas das queimadas, o que, não raro, ocorre apenas um ano depois do fruto haver se formado. Essa sincronia de abertura de frutos, causada pela queimada, também tem um papel importante, se considerarmos que a grande quantidade de sementes de uma mesma espécie, liberadas ao mesmo tempo, aumenta as chances de algumas sementes escaparem dos predadores e cumprirem seu papel de dispersão e manutenção da espécie (Coutinho, 1977; 1982).

Adaptações às queimadas, no domínio dos cerrados, não devem ser restritas à componente vegetal. Também encontramos diversas evidências de adaptações relacionadas à fauna dessas regiões. A coloração mimética, apresentando diferentes tonalidades de cinza, está presente em répteis, aves e mamíferos, como no caso dos tamanduás, que pode estar associada à garantia de vida após episódios de queimadas, onde os campos tornam-se absolutamente abertos, uma vez que a cobertura vegetal herbácea e arbustiva foi queimada e os indivíduos têm maior dificuldade para se deslocar de forma segura, frente aos olhos atentos de seus predadores.

Por provocarem a rebrota da vegetação herbácea, as queimadas também proporcionam aos herbívoros a renovação das pastagens, nas épocas mais secas do ano (Coutinho, 1982; Lacey et al., 1982) onde, naturalmente, a oferta de alimento é bastante reduzida e as disputas pelas áreas mais úmidas acabam gerando conflitos intra e inter-específicos.

Apesar de todas essas adaptações, alguns trabalhos enfatizam a importância de se considerar a freqüência de ocorrência de queimadas, a quantidade de material combustível, a temperatura ambiente, a intensidade dos ventos, a umidade relativa do ar etc., nas discussões sobre os impactos causados pela ocorrência de queimadas nas formações vegetais típicas dos cerrados e, também, nas florestais (Lacey et al., 1982; Kauffman e Uhl, 1990).

A morte de alguns indivíduos da vegetação e da fauna dos cerrados não deve ser vista, exclusivamente, como um impacto negativo da ocorrência das queimadas, pois a base teórica do processo de seleção natural envolve a sobrevivência e transmissão genética dos indivíduos mais adaptados à ocorrência de fogo e a eliminação daqueles menos adaptados ou doentes.

Para conhecer o efeito das queimadas sobre o ciclo dos nutrientes e discutindo questões ligadas à manutenção do ecossistema das savanas densas, Jensen et al. (2001) fizeram um experimento com queimadas programadas e freqüências variadas, concluindo que as grandes e significativas perdas de nutrientes causadas por altas freqüências de queimadas e grandes quantidades de biomassa herbácea, comprometem o ciclo natural de nutrientes e, conseqüentemente, a manutenção desse ecossistema.

Com o objetivo de conhecer o balanço entre emissão de carbono pelas queimadas e seqüestro de carbono pela vegetação, Miranda e Miranda (2000) estimaram que uma queimada nos cerrados provoca, em média, a liberação de 5,6 t C/ha. Considerando a taxa média de seqüestro de carbono do cerrado, concluíram que seriam necessários 1,8 anos para o equilíbrio entre o carbono emitido e o seqüestrado, por área, o que coincide com o período de aproximadamente dois anos, verificado por Pivello e Coutinho, (1992), para a reposição dos macronutrientes transferidos para a atmosfera, durante uma queimada no cerrado de Pirassununga, S.P.

Castro e Kauffman (1998), motivados pela permanente e rápida substituição dos cerrados naturais pela atividade agrícola no Brasil, elaboraram uma estimativa da perda de Carbono para a atmosfera com as queimadas, considerando a quantidade de Carbono em quatro fisionomias da vegetação de cerrado, indo desde campo cerrado até o cerrado denso e considerando, inclusive, a biomassa existente sob o solo, extremamente importante neste tipo de vegetação. A comparação entre a perda de biomassa nas áreas intactas de cerrado denso e áreas alteradas da floresta tropical mostrou que as perdas associadas a áreas de Floresta Tropical, ainda que alteradas, são significativamente maiores do que aquelas observadas nas áreas de cerrados densos intactos. Em outros estudos similares, Coutinho (1990), Kauffman et al. (1998) e Hughes et al. (2000) estimaram e discutiram os impactos e efeitos das queimadas, sob a distribuição e ciclo de nutrientes, abaixo e acima da superfície do solo, em áreas de pastagem na Amazônia, áreas de regeneração da floresta e áreas de cerrado, demonstrando existirem diferenças qualitativas e quantitativas muito significativas das queimadas, em função dos ecossistemas afetados.

Há, portanto, evidências empíricas e científicas mostrando a necessidade de se considerar a heterogeneidade ambiental, os diferentes impactos e as características de cada biótopo, nas reflexões e na formulação de políticas públicas, que tenham como objetivo proporcionar a redução, contenção ou racionalização das queimadas no Brasil.

 

 

INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E INSTITUCIONAIS PARA CONTENÇÃO DAS QUEIMADAS NA AMAZÔNIA LEGAL

No Brasil, por iniciativa do Governo Federal, existem atualmente alguns grandes projetos buscando identificar, delimitar, mapear, quantificar e monitorar ações relacionadas aos desmatamentos e às queimadas, procurando compreender as relações existentes entre elas, na tentativa de orientar a tomada de decisões para seu controle efetivo.

No âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia, surgiu o Projeto Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite - PRODES (INPE, 1999), considerado o maior projeto de monitoramento de florestas do mundo, utilizando técnicas de sensoriamento remoto orbital, com suporte de um sistema de informações geográficas. Há muitos anos ele acompanha o desflorestamento bruto da Amazônia brasileira, executando os mapeamentos das áreas desflorestadas, através da utilização de imagens dos satélites da série Landsat.

A detecção e localização de focos de calor, atividade circunscrita ao Projeto Queimadas, também ligado à esfera de ações do Ministério da Ciência e Tecnologia, desenvolvido pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE/CPTEC, foi a primeira iniciativa no mundo de mapeamento de queimadas através da utilização do sensor AVHRR dos satélites da série NOAA (Kaufman et al., 1990) e apresenta dados de focos de calor, diários, para a totalidade do território nacional (INPE, 2004).

Ainda na esfera do Governo Federal, a preocupação com os incêndios florestais, justificada pelo evento dos incêndios de Roraima em 1998, aliada à crescente exposição da floresta à ação do fogo e à expectativa do agravamento do quadro de sinistros, exigiu resposta imediata dos governos federal e estadual e da sociedade, na busca de soluções, para minimizar os problemas provocados pelas queimadas e incêndios florestais. Assim nasceu, em maio de 1998, o Programa de Prevenção e Controle de Queimadas e Incêndios Florestais na Amazônia Legal - PROARCO, que emerge das funções institucionais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal - MMA. (IBAMA, 1998).

Procurando identificar, delimitar, mapear, quantificar e monitorar as ocorrências de queimadas e incêndios, provocados principalmente pelos sistemas de produção adotados e pela expansão da fronteira agrícola, esse projeto, baseado nas informações dos focos de calor (INPE, 2004), apresenta relatórios diários sobre a avaliação dos riscos de ocorrência de queimadas e incêndios, através da combinação de imagens do satélite NOAA e previsões climáticas.

Também no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal – MMA, o Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, criado oficialmente durante a Rio-92, tem apoiado uma série de iniciativas inovadoras de monitoramento, prevenção e controle de desmatamentos e queimadas, como por exemplo o Subprograma de Políticas de Recursos Naturais (SPRN), o Projeto de Mobilização, Capacitação e Prevenção de Incêndios Florestais na Amazônia - PROTEGER, o PROMANEJO e o PROVARZEA. Nesse mesmo contexto, com apoio do SPRN, foi estruturado o Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedade Rural – SLAPR, desenvolvido pela Fundação Estadual de Meio Ambiente – FEMA, do Estado do Mato Grosso (BRASIL, 2004a).

Após ter consolidado e tornado operacional o bem sucedido SLAPR, a partir de julho de 2004, a FEMA tornou-se co-responsável, juntamente com o IBAMA, pelo licenciamento e controle das queimadas no Estado. Essa estratégia do Governo Federal de compartilhar responsabilidades com os governos estaduais, só tem sido possível em função do desenvolvimento de ações, locais, de capacitação e desenvolvimento de sistemas de gerenciamento e gestão (FEMA, 2004).

O projeto PROTEGER é conduzido pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), em convênio com o Ministério do Meio Ambiente, no qual são utilizados recursos da agência americana USAID, através do Banco Mundial. Atuando em 134 municípios situados no arco do desmatamento e funcionando basicamente a partir de parcerias e de mobilização social, através do desenvolvimento de seminários, formação de lideranças locais, campanhas de educação ambiental e conscientização das comunidades sobre os perigos de incêndios florestais, o PROTEGER promove a adoção de práticas sustentáveis no sistema de produção dos pequenos agricultores, dos extrativistas e das comunidades indígenas (PROTEGER, 2004)

O Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – PROVARZEA, coordenado pelo IBAMA, é composto de subprojetos, financiados pelo Departamento do Desenvolvimento Internacional – DFD, do Reino Unido, e ocorre de forma integrada envolvendo diversas iniciativas. Entre os principais temas desenvolvidos podem ser citados o turismo ecológico, o manejo do recurso pesqueiro, a organização social com fortalecimento de colônias de pescadores, organização de conselhos regionais de pesca, promoção de fóruns municipais de pesca, a educação ambiental indígena, a agricultura e, finalmente, o manejo florestal madeireiro comunitário e formação de recursos humanos para gestão participativa (PROVARZEA, 2005).

Criado em 1999 e coordenado pelo IBAMA, o Projeto Apoio ao Manejo Florestal Sustentável na Amazônia – ProManejo, tem testado e desenvolvido estratégias inovadoras relacionadas com o manejo sustentável de Florestas Tropicais na Amazônia. Além disso, vem atuando nos processos de intercâmbio, articulação e diálogo sobre as questões florestais da região. Previsto para um período de cinco anos, o ProManejo tem como objetivo geral apoiar o desenvolvimento e a adoção de sistemas sustentáveis de manejo florestal na Amazônia, com ênfase na exploração de produtos madeireiros, através de ações estratégicas e experiências piloto em áreas prioritárias (PROMANEJO, 2004).

Um outro projeto desenvolvido na esfera federal, circunstanciado no Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento, constitui-se em uma resposta do Governo Federal à necessidade de apresentar um projeto de redução das queimadas agrícolas à sociedade e deu origem à criação de um programa de monitoramento e combate desta prática, através da indicação de "Alternativas Para a Prática das Queimadas na Agricultura" (BRASIL, 2001).

Baseado nos dados produzidos pela Embrapa Monitoramento por Satélite, que há mais de dez anos monitora a incidência de pontos de queimadas em todo o território nacional (EMBRAPA, 1991) e oferece, semanalmente, uma visão da dinâmica espaço-temporal da sua ocorrência, esse projeto indicou os estados e municípios que mais contribuíam no total de queimadas do país, para que o Governo Federal desenvolvesse um trabalho de conscientização, junto às comunidades locais e apresentasse uma série de alternativas às práticas de queimadas adotadas.

Embora a ênfase principal sobre os problemas advindos da prática de desmatamentos e queimadas seja dada ao domínio da Floresta Tropical, como mostram os principais programas de monitoramento e gestão nacionais desenvolvidos, outros domínios brasileiros, como o caso do cerrado, não podem ser esquecidos ou negligenciados. Estudos desenvolvidos pela "Conservação Internacional do Brasil", recentemente publicados, indicam que o Cerrado deve desaparecer até 2030. Dos 204 milhões de hectares delimitados pelo Domínio do Cerrado, 57% já foram completamente destruídos e a metade das áreas remanescentes está bastante alterada, podendo não mais servir à conservação da biodiversidade. A taxa anual de desmatamento no Domínio do Cerrado é alarmante, chegando a 1,5%, ou 3 milhões de hectares/ano. As principais pressões identificadas sobre o Cerrado são a expansão da fronteira agrícola, as queimadas e o crescimento não planejado das áreas urbanas. A degradação é maior nos Estados do Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso, no Triângulo Mineiro e no Oeste da Bahia (Conservação Internacional do Brasil, 2004).

Mais recentemente, o decreto de 3 de julho de 2003 criou o Grupo Permanente de Trabalho Interministerial para a Redução dos índices de desmatamento da Amazônia Legal (BRASIL, 2004b), no qual a primeira estratégia de implementação listada está relacionada a ações de ordenamento fundiário e territorial, até então pouco presente nas discussões para formatação de políticas e estratégias ambientais.

SENSORIAMENTO REMOTO APLICADO À DETECÇÃO DE QUEIMADAS

Pode-se afirmar que a crescente demanda por informações sobre a ocorrência de queimadas, sua abrangência e os impactos decorrentes desse fenômeno, são fatores responsáveis por grande parte dos avanços tecnológicos, obtidos nas últimas duas décadas, no campo de desenvolvimento tecnológico de satélites e sensores aplicados à observação da Terra para acompanhamento de fenômenos naturais ou antrópicos, com abrangência local, regional ou global (Giglio e Kendall, 2001).

O trabalho pioneiro para incorporação de sistemas orbitais na detecção de queimadas em florestas tropicais foi desenvolvido por Matson15 et al. (1984, apud Pereira e Setzer, 1993), com a utilização de imagens do satélite meteorológico da National Oceanic and Atmospheric Administration-NOAA - Advanced Very High Resolution Radiometer-AVHRR. No Brasil, a partir de 1987, trabalhos desenvolvidos no Instituto Nacional de Pesquisas espaciais – INPE incorporaram dados do NOAA-AVHRR no desenvolvimento de um sistema nacional para monitoramento das queimadas (Setzer e Pereira, 1991b).

Pereira et al. (2000) diferenciam três tipos principais de sistemas de monitoramento através da detecção de pontos de queimadas. O primeiro monitora os focos ativos através da identificação da pluma de fumaça gerada pelas queimadas, o segundo monitora os focos ativos através da detecção dos picos de temperatura das chamas, no momento da passagem do satélite e o terceiro está relacionado à mensuração da extensão da área afetada através da definição e delimitação das manchas na vegetação, originadas principalmente pela mudança do padrão espectral das áreas de deposição das cinzas e/ou pelo efeito da queimada sobre a vegetação (morte ou rebrota).

O fato de a temperatura da superfície terrestre ser uma das variáveis importantes para a meteorologia e, portanto, sua aquisição ter sido desenvolvida e programada para o conjunto de sensores dispostos nos satélites meteorológicos, condicionou, acidentalmente, um elevado potencial desses instrumentos para sua aplicação na detecção de queimadas.

Elvidge et al. (1997) elencaram algumas características do NOAA-AVHRR que fizeram dele um importante instrumento de aquisição de imagens para o monitoramento de queimadas. Dotado de elementos de imagem (pixel) com dimensões aproximadas de 1100m esse satélite apresenta vantagens como: 1) múltiplas passagens diárias; 2) baixo custo dos dados; 3) baixo volume de dados; 4) potencial para produção em tempo real e 5) acesso direto aos dados.

A lógica de utilização dessas imagens, mesmo com algumas limitações em relação à resolução espacial que elas possuem, pode ser facilmente compreendida se compararmos essas mesmas características para dados oriundos de sistemas mais modernos e detentores de melhores resoluções espaciais (pixel menor) como, por exemplo, o satélite Landsat-ETM, que apresenta o pixel com 60m na banda termal, mas que por outro lado possui: 1) passagem a cada 16 dias sob um mesmo ponto; 2) elevado custo de aquisição de dados; 3) grandes volumes de dados; 4) baixíssimo potencial para processamento em tempo real e 5) protocolo bastante demorado para recebimento dos dados.

Assim como o trabalho de Elvidge et al. (1997) ressaltou algumas vantagens de se trabalhar com sensores como o NOAA-AVHRR, o mais amplamente adotado para o mapeamento de queimadas, Li et al. (2000, p. 4) lembraram que, além dessas vantagens, há de se considerar a existência de séries históricas completas de dados do NOAA/AVHRR, possibilitando o desenvolvimento de análises temporais históricas da ocorrência desse fenômeno.

Segundo Setzer (1993, p. 8), a baixa resolução espacial das imagens NOAA não pode ser considerada como uma característica restritiva ao seu uso para a detecção e monitoramento dos pontos de queimadas, pois uma queimada cuja "frente de fogo" tenha mais do que 50m já é suficiente para fazer com que o valor da temperatura média do pixel seja alterado de maneira perceptível, propiciando a sua diferenciação em relação aos pixels vizinhos e sua identificação como um ponto de queimada.

Apesar da detecção e monitoramento dos pontos de queimadas não ser limitada pela baixa resolução espacial das imagens do satélite NOAA-AVHRR, um dos problemas que impede a delimitação, quantificação e mapeamento das áreas afetadas pelas queimadas, está relacionado justamente à resolução espacial de 1100m, uma vez que ela inviabiliza o desenvolvimento de abordagens em escalas mais detalhadas, indicadas nesse tipo de processamento e análise (Setzer, 1993, p. 10; Arino et al., 2000).

O caminho mais intuitivo para solucionar o problema da delimitação das queimadas seria migrar os atuais sistemas de detecção dos pontos de calor para operar com imagens de melhor resolução espacial. Apesar disso, os trabalhos de Setzer, et al. (1994, p. 92) e Elvidge et al. (1997, p. 1) afirmam que a migração para sistemas com resolução espacial melhores não significaria, necessariamente, uma solução adequada ao problema, pois no caso do monitoramento de grandes extensões territoriais, como no caso da Amazônia brasileira, o número de imagens necessárias, o volume de dados, o custo financeiro e o tempo necessário para o processamento dos dados inviabilizariam a operacionalização dessa estratégia.

Eva e Lambin (1998 b) compararam vários tipos de sensores para o mapeamento de focos de fogo e para a estimativa de biomassa queimada, concluindo que os sensores, como o NOAA/AVHRR e ERS/ATSR, são eficientes na identificação de queimadas ativas e na detecção de variações temporais, sazonais e interanuais. Já para a estimativa de biomassa queimada, apesar do significativo aumento de custo de execução, o resultado mais confiável é obtido através do processamento de imagens de alta resolução espacial, como SPOT e Landsat, em função da identificação e delimitação mais precisa das áreas queimadas.

A análise de séries temporais de dados do satélite DMSP-OLS, capaz de rastrear fracas emissões luminosas no campo do visível VNIR (Visible-Near Infra Red), tais como as produzidas por cidades, pequenos aglomerados urbanos, vilas, chamas oriundas da queima de gases em indústrias, queimadas etc., induziu a busca por novas opções para o mapeamento de queimadas noturnas, não contempladas nos sistemas mais tradicionais de monitoramento e culminou com o trabalho de Elvidge et al. (2000), no qual os autores puderam mapear, através da sobreposição de séries temporais, os pontos que ocorriam em todas as imagens da série e, portanto, considerados estáveis. Com esta base de pontos estáveis os autores puderam, a cada nova imagem obtida, subtrair a base de pontos estáveis e identificar os restantes, de ocorrência variável, considerados como pontos de queimadas.

Para testar a eficiência desse novo instrumento, Fuller e Fulk (2000) desenvolveram um trabalho utilizando imagens produzidas pelo NOAA/AVHRR, canal 3 e DMSP-OLS, para o mapeamento de queimadas, e obtiveram níveis de co-ocorrências de eventos variáveis em função dos diferentes limiares de temperatura aplicados. Observaram também que embora o número de pixels de queimadas obtido pelo DMSP-OLS fosse maior do que o obtido com o NOAA/AVHRR, a distribuição espacial dos pontos foi bastante similar.

Em um trabalho de identificação de focos de queimadas desenvolvido com o sensor MODIS, Kaufman et al. (1998) observaram que pequenas áreas sendo queimadas, dependendo de sua temperatura, tiveram a capacidade de saturar o pixel, fazendo com que o mesmo fosse classificado como um foco de calor pelo algoritmo do Produto MOD14, mesmo que apenas uma pequena fração da área do pixel estivesse sendo queimada. Esse efeito também foi observado com a utilização do sensor AVHRR/NOAA.

Buscando aumentar a diversidade de sensores na execução dessa tarefa, Eva, et al. (1998) e Eva e Lambin (1998a) monitoraram, através do uso de imagens do satélite European Remote Sensing Satellite - ERS/ATSR, uma queimada ocorrida em uma área de savana na África e comprovaram a eficiência dessa ferramenta orbital para o mapeamento de queimadas nesse tipo de vegetação. O uso de diferentes sensores para as diferentes situações ecológicas e/ou fisionomias vegetais pode originar combinações sensores/situações com desempenhos variados. Eva (1995) avaliou e comparou a eficiência do mapeamento de áreas queimadas com a utilização de imagens NOAA/AVHRR, SPOT/Vegetation e ERS/ATSR, concluindo que a combinação e integração de diferentes sensores produz um monitoramento mais preciso e completo.

A precisão obtida no monitoramento de áreas queimadas e de focos de incêndios ativos não está unicamente relacionada à quantidade, ao tipo ou à resolução espacial do sensor utilizado. A escolha dos programas, métodos e algoritmos, adotados para o processamento dos dados, também é fundamental para a obtenção de bons resultados.

Integrantes da comunidade européia, engajados no experimento "SMOKO", desenvolveram e testaram vários sistemas para o mapeamento de áreas queimadas no Parque Nacional do Kakadu, Austrália, utilizando sensores ópticos, termais e de microondas (EUR, 2000). Os resultados obtidos através da utilização de imagens Landsat-TM, ERS2-SAR, RADARSAT, NOAA-AVHRR, SPOT-VEGETATION, ERS2-ATSR e GMS-VISSR indicaram que os atuais sistemas de rastreamento global, de média/baixa resolução espacial, produzem dados confiáveis, quando comparados aos resultados obtidos com sistemas de alta resolução espacial, do tipo Landsat.

Interessados em comparar os sistemas de mapeamento de queimadas, Li et al. (2000) desenvolveram um estudo comparativo entre algumas iniciativas para mapeamento e monitoramento de queimadas executadas pelos principais grupos de pesquisa existentes no mundo, com o objetivo de verificar qual a combinação "instrumento/algoritmo" produz os melhores resultados em termos dos erros de comissão e omissão que são, respectivamente, erro associado à detecção de uma queimada inexistente e erro associado à não detecção de uma queimada existente. Os melhores resultados foram obtidos com o NOAA-AVHRR e, em termos dos algoritmos testados, os autores avaliaram que ainda existe uma significativa taxa de erros em todos eles.

O trabalho de Pereira et al. (2000, p. 98) faz uma síntese das principais iniciativas de mapeamento de queimadas no mundo e ressalta o fato de o Brasil possuir um sistema operacional de monitoramento de queimadas para todo o território nacional, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE, com uma política de distribuição e divulgação de dados extremamente aberta. Apesar dos elogios recebidos pela iniciativa brasileira, o sistema desenvolvido e implantado pelo INPE vem sendo aperfeiçoado com a execução de alguns ajustes, associados sobretudo ao algoritmo e aos canais envolvidos na identificação dos focos de queimadas pelo NOAA/AVHRR.

Setzer e Pereira (1991a) empregaram o algoritmo single threshold para mapear focos de queimadas na Amazônia, utilizando o canal 3 (3.7mm) do satélite NOAA/AVHRR. Posteriormente, o trabalho de Setzer e Verstraete (1994), detectou alguns problemas no processamento com o single threshold, resultantes da confusão do classificador, pelo fato de terem usado imagens diurnas, período em que ocorrem, também, altas temperaturas em alguns tipos de solos e alta reflectância apresentada por algumas superfícies específicas, confundindo o classificador das imagens e gerando erros de comissão significativos para o trabalho de quantificação dos pontos de queimadas.

Alguns problemas relacionados à utilização do sensor AVHRR, a bordo do satélite NOAA foram identificados e publicados em trabalhos desenvolvidos pela NOAA (1985), Kaufman et al. (1990), Kidwell (1991), Robinson (1991), Setzer (1993) e Chuvieco e Martin (1994). Entre os problemas mais críticos os autores citam o fato de a radiação solar refletida por corpos d’água ou solos expostos, para ângulos específicos de reflexão, poderem apresentar a mesma assinatura espectral dos fogos ativos, devido ao baixo limiar de saturação da banda 3 (3,55 a 3,93 µm); fogos ativos cobrindo apenas uma parte do pixel são suficientes para saturar a banda 3 deste sensor, inviabilizando sua utilização na estimativa das áreas queimadas.

Tentando equacionar alguns problemas de má interpretação do classificador, Csiszar et al. (2001) desenvolveram fatores de correção, calculados através de imagens do Polarization and Directionality of the Eart’s Reflectance (POLDER) e concluíram que, além de melhorar significativamente os dados produzidos pelo processamento das imagens NOAA/AVHRR, esses fatores de correção poderiam ser utilizados para as mesmas épocas em outros anos, em função da pouca variação interanual, sazonal, da "função de distribuição bidirecional de reflectância".

Existem basicamente três grupos de algoritmos utilizados para o mapeamento de queimadas (Li et al., 2000, p. 7). Os algoritmos mais simples, chamados de single-channel threshold algorithm, consideram apenas dados de uma única banda do satélite. No caso do NOAA/AVHRR, a banda mais usual para esse tipo de análise é a banda 3 (3.7mm). O segundo grupo, denominado de Multi-channel threshold algorithm, envolve a análise dos dados provenientes de mais de uma banda, reduzindo com isso a ocorrência de alguns erros da classificação. O terceiro grupo, chamado Multi-channel contextual algorithm, avalia, além dos valores do próprio pixel, os valores dos pixels do seu entorno, através do cálculo da média e do desvio padrão de um conjunto (matriz) de pixels.

Eva e Flasse (1996) testaram o desempenho de dois desses algoritmos (Multi-channel threshold algorithm e Multi-channel contextual algorithm) para a detecção de focos de queimadas ativas, utilizando imagens de satélites meteorológicos e concluíram que o processamento através do algoritmo Multi-channel threshold algorithm produziu resultados mais confiáveis e apresentou uma significativa redução do esforço amostral.

Kondratyev et al. (1996) em um trabalho exaustivo e minucioso, fizeram uma avaliação pioneira sobre o estado da arte em sensoriamento remoto, tendo como objetivo principal avaliar o potencial dessas ferramentas para a avaliação das mudanças climáticas globais no qual já destacavam a importância da correta associação entre tipos de sensores e objetos ou ações que se pretende monitorar, como uma forma de otimizar os sistemas de observação da Terra.

Considerando o desenvolvimento tecnológico extremamente dinâmico observado e os novos incrementos das demandas por dados de queimadas, sobretudo com o advento das discussões sobre mudanças climáticas globais, surgiu uma prioridade maior em relação à questão de integração das bases de dados para a geração de cenários globais sobre a ocorrência de queimadas.

Frente à grande diversidade de resultados obtidos em função da adoção de diferentes métodos e sensores, Dull e Singh (2000) fizeram dez recomendações no âmbito do CEOS (Committee on Earth Observatin Satellites), com o objetivo de revisar o potencial das bases de dados espaciais no monitoramento das queimadas. Essas recomendações envolveram, entre outras coisas, o desenvolvimento e teste das inúmeras metodologias e ferramentas para o mapeamento de material combustível, avaliação do risco de ocorrência de queimadas, detecção de focos, monitoramento e mapeamento das áreas afetadas.

Um dos primeiros esforços para integração de bases de dados foi coordenado pela European Space Agency - ESA, através da Fire Ionia Tool - FIT, que reuniu em um "Atlas Mundial de Queimadas" (ESA/ESRIN, 1997), vários mapeamentos de focos ativos e de áreas queimadas ocorridas na África, América do Sul e Austrália, com a utilização de imagens do sensor NOAA/AVHRR e na Indonésia, com uso do sensor ERS/ATSR, com o objetivo de reunir e integrar o máximo de informações sobre o tema.

Partindo do princípio de que as queimadas ocorrem na totalidade dos continentes e em qualquer época do ano, Dwyer et al. (2000) estruturaram um projeto para efetuar o monitoramento da totalidade da superfície terrestre, no período compreendido entre abril de 1992 e dezembro de 1993. Ao final de doze meses de monitoramento foi possível constatar que 6% dos pixels (1,1km2) foram afetados por, pelo menos, uma queimada ao longo do período. Constataram ainda que 50% das queimadas ocorriam no continente Africano, mais de 70% se concentravam na faixa Tropical e um terço delas estavam circunscritas à cobertura vegetal do tipo savana aberta.

Queimadas em florestas são responsáveis por enormes prejuízos ao meio ambiente, à saúde humana e às propriedades rurais, além de colocar vidas humanas em risco. O monitoramento das condições da vegetação e clima, através de dados obtidos por satélite e sua integração com bases de dados estruturadas em Sistemas de Informações Geográficas (SIG) apresenta a possibilidade de prever os eventos de queimadas e minimizar seus impactos negativos (Sunar e Özkan, 2001).

Assumindo um consenso global e emergente de que os ecossistemas florestais possuem um papel central nas questões relativas ao efeito estufa, às mudanças climáticas e à biodiversidade, Grégoire et al. (2000) ressaltam a importância das queimadas como agentes modeladores e determinantes do tipo e condição da cobertura vegetal. Neste contexto, o Global Observation of Forest Cover – GOFC, iniciado pelo Committee on Earth Observation Satellites - CEOS, tem buscado inventoriar e detalhar a cobertura florestal global, para subsidiar o mapeamento e monitoramento das queimadas nessas áreas com o objetivo de caracterizar os processos biofísicos florestais, através de dados obtidos por satélites.

 

Anexo 2: Totais anuais de pontos de queimadas por município do Estado do Mato Grosso.

MUNICÍPIO

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

ÁREA DE LITÍGIO

78

8

18

25

77

6

33

55

46

ACORIZAL

24

1

6

5

29

7

16

22

9

ÁGUA BOA

462

42

162

249

104

103

100

263

186

ALTA FLORESTA

1161

291

311

418

829

441

490

745

616

ALTO ARAGUAIA

129

20

37

62

146

23

36

172

101

ALTO BOA VISTA

240

43

124

375

57

119

96

702

154

ALTO GARÇAS

192

11

30

51

115

48

84

86

245

ALTO PARAGUAI

43

27

22

30

46

18

25

46

26

ALTO TAQUARI

40

8

3

0

24

2

0

11

19

APIACÁS

215

50

110

263

246

148

237

664

877

ARAGUAIANA

507

107

182

271

263

137

142

335

240

ARAGUAINHA

48

2

2

11

21

2

8

10

22

ARAPUTANGA

22

2

6

4

34

5

15

13

14

ARENÁPOLIS

9

4

1

15

6

2

6

5

6

ARIPUANÃ

365

159

162

438

646

445

595

1127

1012

BARÃO DE MELGAÇO

100

40

38

204

1016

120

617

257

125

BARRA DO BUGRES

511

135

89

194

292

146

209

230

85

BARRA DO GARÇAS

625

82

198

304

305

132

325

226

187

BOM JESUS DO ARAGUAIA

244

405

197

879

167

320

178

796

314

BRASNORTE

931

261

460

469

826

499

603

1050

996

CÁCERES

512

158

264

456

1433

646

1090

1185

552

CAMPINÁPOLIS

371

29

98

397

210

109

174

265

186

CAMPO NOVO DO PARECIS

1018

72

188

202

252

98

138

230

217

CAMPO VERDE

184

2

42

17

102

43

69

53

99

CAMPOS DE JÚLIO

203

88

62

82

103

69

81

163

323

CANABRAVA DO NORTE

583

96

163

758

108

184

130

514

73

CANARANA

1299

173

473

488

391

242

234

414

424

CARLINDA

666

123

159

224

325

104

108

169

152

CASTANHEIRA

301

119

66

223

259

185

227

297

218

CHAPADA DOS GUIMARÃES

249

17

83

25

238

36

46

69

144

CLÁUDIA

319

150

179

166

638

152

283

412

410

COCALINHO

1042

351

289

742

476

390

414

863

500

COLÍDER

348

83

142

149

323

65

88

97

43

COLNIZA

55

10

13

136

241

207

309

975

916

COMODORO

662

100

115

177

513

239

178

420

505

CONFRESA

340

187

285

1123

347

599

369

1229

594

CONQUISTA D´ OESTE

156

14

23

37

62

19

42

32

30

COTRIGUAÇU

110

25

34

125

208

185

247

543

492

CUIABÁ

62

10

25

16

57

28

36

84

43

CURVELÂNDIA

18

1

11

15

55

10

7

6

9

DENISE

42

24

21

30

53

24

27

34

21

MUNICÍPIO

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

DIAMANTINO

471

54

122

222

318

183

150

235

402

DOM AQUINO

44

10

4

26

81

18

21

20

20

FELIZ NATAL

52

22

160

70

424

105

161

458

1077

FIGUEIRÓPOLIS D´ OESTE

47

10

22

30

29

18

34

37

10

GAÚCHA DO NORTE

496

221

394

545

885

566

471

1200

979

GENERAL CARNEIRO

474

23

53

73

97

41

104

49

116

GLÓRIA D´ OESTE

29

14

17

17

43

26

10

7

25

GUARANTÃ DO NORTE

372

136

290

462

809

144

212

445

320

GUIRATINGA

175

11

29

145

135

28

63

87

122

INDIAVAÍ

9

1

0

5

38

8

12

20

3

ITAÚBA

380

99

199

165

615

133

186

327

354

ITIQUIRA

494

80

72

105

240

84

129

189

252

JACIARA

134

3

2

25

65

16

15

17

17

JANGADA

42

7

12

23

22

7

20

50

23

JAURU

91

17

12

26

94

34

44

30

19

JUARA

1723

336

328

914

936

730

651

1015

1565

JUÍNA

832

150

270

496

657

425

451

914

477

JURUENA

319

30

41

132

135

141

161

320

375

JUSCIMEIRA

165

19

11

37

67

42

26

46

70

LAMBARI D´ OESTE

66

42

78

77

160

62

69

116

20

LUCAS DO RIO VERDE

399

62

107

107

198

126

136

134

109

LUCIÁRA

262

45

98

306

141

121

214

263

223

MARCELÂNDIA

741

258

500

522

991

318

468

689

752

MATUPÁ

430

142

217

201

563

169

347

738

391

MIRASSOL D´ OESTE

20

9

12

14

51

23

24

26

38

NOBRES

125

22

82

107

112

85

139

149

154

NORTELÂNDIA

25

7

12

13

22

20

21

37

16

NOSSA SENHORA. DO LIVRAMENTO

95

26

16

55

200

36

114

173

103

NOVA BANDEIRANTES

590

218

157

300

420

252

372

717

1032

NOVA BRASILÂNDIA

141

22

78

88

88

40

21

71

68

NOVA CANAÃ DO NORTE

775

105

230

233

942

282

182

325

502

NOVA GUARITA

188

54

138

166

314

93

54

83

83

NOVA LACERDA

160

44

84

132

291

30

231

230

191

NOVA MARILÂNDIA

95

27

33

137

169

37

32

212

96

NOVA MARINGÁ

218

68

198

222

296

283

307

663

1105

NOVA MONTE VERDE

691

166

213

325

529

220

443

440

733

NOVA MUTUM

809

241

346

482

603

327

425

683

893

NOVA NAZARÉ

168

51

60

197

73

79

108

200

272

NOVA OLÍMPIA

36

27

14

61

166

37

56

49

32

NOVA SANTA HELENA

220

54

179

106

281

62

93

214

94

NOVA UBIRATÃ

830

195

348

554

563

394

914

1903

2428

NOVA XAVANTINA

474

113

172

368

154

140

174

141

184

NOVO HORIZONTE DO NORTE

132

23

21

47

84

112

54

122

51

NOVO MUNDO

740

156

316

403

901

372

505

896

1076

MUNICÍPIO

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

NOVO SANTO ANTÔNIO

166

51

37

183

68

116

180

141

176

NOVO SÃO JOAQUIM

369

65

88

226

214

64

124

156

133

PARANAÍTA

332

77

86

184

544

340

387

503

593

PARANATINGA

1220

126

443

841

650

566

486

1019

1057

PEDRA PRETA

47

24

21

106

128

23

63

77

98

PEIXOTO DE AZEVEDO

1121

223

355

515

708

245

399

1284

590

PLANALTO DA SERRA

56

13

8

78

91

21

37

47

40

POCONÉ

82

52

77

103

866

438

708

481

136

PONTAL DO ARAGUAIA

176

18

50

141

87

47

76

94

87

PONTE BRANÇA

18

4

6

19

14

6

22

20

30

PONTES E LACERDA

500

125

119

318

554

244

523

758

372

PORTO ALEGRE DO NORTE

405

108

156

567

131

247

132

525

231

PORTO DOS GAÚCHOS

334

80

173

418

410

428

645

1201

1473

PORTO ESPERIDIÃO

276

81

124

233

492

253

308

306

172

PORTO ESTRELA

18

31

24

99

105

46

78

103

56

POXORÉO

495

34

59

99

282

43

63

146

164

PRIMAVERA DO LESTE

460

20

85

130

111

57

48

129

121

QUERÊNCIA

901

458

511

721

772

683

611

1270

2372

RESERVA DO CABACAL

6

3

0

0

18

0

3

4

0

RIBEIRÃO CASCALHEIRA

490

422

288

897

277

454

347

842

379

RIBEIRÃOZINHO

66

5

4

23

20

15

10

29

25

RIO BRANCO

15

1

0

0

9

2

10

7

2

RONDOLÂNDIA

190

73

113

395

324

172

188

435

214

RONDONÓPOLIS

72

23

41

37

123

23

49

61

74

ROSÁRIO OESTE

488

42

82

128

326

84

150

207

209

SALTO DO CÉU

76

2

20

15

44

17

39

30

15

SANTA CARMEM

155

86

216

178

308

222

236

431

852

SANTA CRUZ DO XINGU

176

42

59

61

75

50

31

133

181

SANTA RITA DO TRIVELATO

255

15

135

222

119

190

122

256

690

SANTA TEREZINHA

166

167

160

493

136

275

247

1009

606

SANTO AFONSO

55

2

11

35

97

51

34

60

32

SANTO ANTÔNIO DO LESTE

393

36

36

139

50

44

68

68

57

SANTO ANTÔNIO DO LEVERGER

346

22

164

207

569

125

283

280

281

SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA

988

486

359

951

413

488

390

1023

711

SÃO JOSÉ DO POVO

11

8

3

13

35

4

28

13

2

SÃO JOSÉ DO RIO CLARO

67

77

80

129

158

150

152

323

504

SÃO JOSÉ DO XINGU

487

146

177

611

134

172

86

363

131

SÃO JOSÉ DOS QUATRO MARCOS

15

6

12

13

44

26

38

29

24

SÃO PEDRO DA CIPA

29

0

0

11

25

5

0

11

5

SAPEZAL

674

88

106

160

238

216

251

231

319

SERRA NOVA DOURADA

38

21

31

132

37

58

64

171

37

SINOP

418

205

311

382

768

400

410

566

611

SORRISO

1587

392

604

1162

1267

890

1425

1279

1105

TABAPORÃ

323

270

210

459

781

546

701

1357

1719

MUNICÍPIO

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

TANGARÁ DA SERRA

766

62

110

124

525

164

225

356

183

TAPURAH

951

206

558

1538

1820

1271

2149

3179

3224

TERRA NOVA DO NORTE

557

91

276

238

579

100

126

221

109

TESOURO

237

19

37

200

98

54

75

66

142

TORIXORÉU

190

3

23

78

49

25

26

68

40

UNIÃO DO SUL

220

84

239

116

310

164

189

266

224

VALE DE SÃO DOMINGOS

48

36

14

36

78

13

66

85

67

VÁRZEA GRANDE

21

0

5

15

11

3

15

21

11

VÉRA

202

109

206

344

550

470

792

1154

1356

V. BELA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

626

175

327

404

808

328

726

1012

541

VILA RICA

159

278

241

997

240

582

187

1040

784

 

 

Anexo 3: Matriz de correlação entre as variáveis selecionadas e o F1 de queimadas.

F1

F1

X2

X3

X4

X5

X6

X7

X8

X9

X10

X11

X12

X13

X14

X15

X16

X17

X18

X19

X20

r

100,0

0,64

0,27

0,29

0,16

-0,02

0,21

0,77

0,69

0,48

0,51

-0,45

-0,44

0,27

0,31

0,36

0,38

0,38

0,39

0,41

n.s.

 

<,001

0,001

0,001

0,061

0,856

0,014

<,001

<,001

<,001

<,001

<,001

<,001

0,001

0,000

<,001

<,001

<,001

<,001

<,001

 

X21

X22

X23

X24

X25

X26

X27

X28

X29

X30

X31

X32

X33

X34

X35

X36

X37

X38

X39

X40

r

-0,08

-0,07

-0,09

-0,11

-0,10

-0,02

-0,02

-0,05

-0,09

-0,08

-0,10

-0,11

-0,10

-0,04

-0,03

-0,05

-0,06

-0,05

-0,07

-0,11

n.s.

0,341

0,393

0,295

0,195

0,260

0,782

0,782

0,590

0,293

0,356

0,266

0,199

0,240

0,648

0,768

0,545

0,476

0,549

0,405

0,214

 

X41

X42

X43

X44

X45

X46

X47

X48

X49

X50

X51

X52

X53

X54

X55

X56

X57

X58

X59

X60

r

-0,09

-0,02

0,01

-0,02

-0,09

-0,10

-0,11

-0,10

-0,10

-0,10

-0,11

-0,09

-0,08

-0,09

-0,11

-0,10

-0,10

-0,10

-0,10

-0,09

n.s.

0,287

0,839

0,946

0,785

0,312

0,257

0,206

0,247

0,256

0,262

0,205

0,269

0,346

0,313

0,214

0,234

0,256

0,251

0,244

0,287

 

X61

X62

X63

X64

X65

X66

X67

X68

X69

X70

X71

X72

X73

X74

X75

X76

X77

X78

X79

X80

r

-0,09

-0,10

-0,10

-0,10

-0,10

-0,09

-0,11

-0,10

0,09

0,00

0,06

0,06

0,06

0,10

0,20

0,19

0,09

-0,02

0,05

0,08

n.s.

0,295

0,238

0,224

0,254

0,256

0,269

0,202

0,245

0,308

0,996

0,482

0,510

0,517

0,238

0,020

0,029

0,314

0,815

0,569

0,371

 

X81

X82

X83

X84

X85

X86

X87

X88

X89

X90

X91

X92

X93

X94

X95

X96

X97

X98

X99

X100

r

0,06

0,11

0,18

0,18

0,20

0,08

0,13

0,14

0,13

0,13

0,23

0,23

0,09

0,08

0,08

0,13

0,12

0,14

0,21

0,25

n.s.

0,478

0,201

0,037

0,037

0,021

0,370

0,114

0,096

0,122

0,135

0,006

0,007

0,308

0,353

0,350

0,142

0,159

0,092

0,014

0,004

 

X101

X102

X103

X104

X105

X106

X107

X108

X109

X110

X111

X112

X113

X114

X115

X116

X117

X118

X119

X120

r

0,09

0,07

0,07

0,10

0,11

0,13

0,20

0,22

0,09

0,09

0,08

0,13

0,12

0,14

0,20

0,24

0,10

0,06

0,07

0,09

n.s.

0,317

0,392

0,411

0,238

0,187

0,116

0,020

0,009

0,287

0,276

0,378

0,139

0,157

0,092

0,016

0,004

0,250

0,458

0,395

0,291

 

X121

X122

X123

X124

X125

X126

X127

X128

X129

X130

X131

X132

X133

X134

X135

X136

X137

X138

X139

X140

r

0,11

0,13

0,20

0,18

0,13

0,11

0,11

0,14

0,14

0,17

0,25

0,26

0,23

0,16

0,18

0,08

-0,07

-0,08

-0,07

-0,08

n.s.

0,217

0,128

0,019

0,038

0,131

0,192

0,199

0,093

0,097

0,051

0,003

0,002

0,008

0,061

0,032

0,333

0,399

0,378

0,403

0,369

 

X141

X142

X143

X144

X145

X146

X147

X148

X149

X150

X152

X153

X154

X155

X156

X157

X158

X159

X160

X161

r

-0,09

-0,09

-0,05

-0,06

-0,08

0,23

-0,07

-0,08

-0,07

-0,06

-0,10

-0,08

0,33

0,20

-0,07

-0,07

-0,07

-0,08

-0,06

-0,08

n.s.

0,285

0,269

0,586

0,453

0,329

0,006

0,399

0,329

0,388

0,461

0,263

0,376

0,000

0,020

0,393

0,422

0,438

0,359

0,455

0,353

 

X162

X163

X164

X165

X166

X173

X174

X175

X176

X177

X178

X179

X180

X181

X182

X183

X184

X185

X186

X187

r

-0,06

-0,07

-0,08

-0,07

-0,07

-0,04

-0,03

0,06

0,07

-0,03

0,03

0,03

0,03

0,18

0,20

0,44

0,35

-0,02

0,14

0,20

n.s.

0,449

0,407

0,371

0,399

0,432

0,659

0,720

0,455

0,393

0,748

0,735

0,733

0,717

0,035

0,018

<,001

<,001

0,844

0,094

0,020

 

X189

X190

X191

X192

X193

X194

X195

X196

X197

X198

X199

X200

X201

r

0,78

0,83

0,92

0,89

0,86

0,96

0,90

0,93

0,85

0,05

0,03

0,05

0,02

n.s.

<,001

<,001

<,001

<,001

<,001

<,001

<,001

<,001

<,001

0,580

0,708

0,598

0,771

r Coeficiente de Correlação

n.s. Nível de Significância

 

Anexo 4: Descrição dos códigos das variáveis.

F1=Fator 1 de queimadas

x1=Área do município (hectares), fonte IBGE

x2=Área do mun (hectares), fonte SIG

x3=renda per capita em 1991

x4=renda per capita em 2000

x5=índice de desenvolvimento humano em 2000

x6=população residente em 2000

x7=número de tratores em 1996

x8=total de área desmatada em1999 (hectare)

x9=total de área desmatada em 2000 (hectare)

x10=área total desmatada até 1999 (hectare)

x11=área total desmatada até 2000 (hectare)

x12=área total desmatada até 1999 em porcentagem

x13=área total desmatada até 2000 em porcentagem

x14=rebanho bovino em 1995 (número de cabeças)

x15=rebanho bovino em 1996 (número de cabeças)

x16=rebanho bovino em 1997 (número de cabeças)

x17=rebanho bovino em 1998 (número de cabeças)

x18=rebanho bovino em 1999 (número de cabeças)

x19=rebanho bovino em 2000 (número de cabeças)

x20=rebanho bovino em 2001 (número de cabeças)

x21=produção de algodão em 1994 (toneladas)

x22=produção de algodão em 1995 (toneladas)

x23=produção de algodão em 1996 (toneladas)

x24=produção de algodão em 1997 (toneladas)

x25=produção de algodão em 1998 (toneladas)

x26=produção de algodão em 1999 (toneladas)

x27=produção de algodão em 2000 (toneladas)

x28=produção de algodão em 2001 (toneladas)

x29=valor da produção de algodão em 1994 (mil Reais)

x30=valor da produção de algodão em 1995 (mil Reais)

x31=valor da produção de algodão em 1996 (mil Reais)

x32=valor da produção de algodão em 1997 (mil Reais)

x33=valor da produção de algodão em 1998 (mil Reais)

x34=valor da produção de algodão em 1999 (mil Reais)

x35=valor da produção de algodão em 2000 (mil Reais)

x36=valor da produção de algodão em 2001 (mil Reais)

x37=área cultivada com algodão em 1994 (hectare)

x38=área cultivada com algodão em 1995 (hectare)

x39=área cultivada com algodão em 1996 (hectare)

x40=área cultivada com algodão em 1997 (hectare)

x41=área cultivada com algodão em 1998 (hectare)

x42=área cultivada com algodão em 1999 (hectare)

x43=área cultivada com algodão em 2000 (hectare)

x44=área cultivada com algodão em 2001 (hectare)

x45=produção de cana de açúcar em 1994 (toneladas)

x46=produção de cana de açúcar em 1995 (toneladas)

x47=produção de cana de açúcar em 1996 (toneladas)

x48=produção de cana de açúcar em 1997 (toneladas)

x49=produção de cana de açúcar em 1998 (toneladas)

x50=produção de cana de açúcar em 1999 (toneladas)

x51=produção de cana de açúcar em 2000 (toneladas)

x52=produção de cana de açúcar em 2001 (toneladas)

x53=valor da produção de cana de açúcar em 1994 (mil Reais)

x54=valor da produção de cana de açúcar em 1995 (mil Reais)

x55=valor da produção de cana de açúcar em 1996 (mil Reais)

x56=valor da produção de cana de açúcar em 1997 (mil Reais)

x57=valor da produção de cana de açúcar em 1998 (mil Reais)

x58=valor da produção de cana de açúcar em 1999 (mil Reais)

x59=valor da produção de cana de açúcar em 2000 (mil Reais)

x60=valor da produção de cana de açúcar em 2001 (mil Reais)

x61=área cultivada com cana de açúcar em 1994 (hectare)

x62=área cultivada com cana de açúcar em 1995 (hectare)

x63=área cultivada com cana de açúcar em 1996 (hectare)

x64=área cultivada com cana de açúcar em 1997 (hectare)

x65=área cultivada com cana de açúcar em 1998 (hectare)

x66=área cultivada com cana de açúcar em 1999 (hectare)

x67=área cultivada com cana de açúcar em 2000 (hectare)

x68=área cultivada com cana de açúcar em 2001 (hectare)

x69=produção de milho em 1994 (toneladas)

x70=produção de milho em 1995 (toneladas)

x71=produção de milho em 1996 (toneladas)

x72=produção de milho em 1997 (toneladas)

x73=produção de milho em 1998 (toneladas)

x74=produção de milho em 1999 (toneladas)

x75=produção de milho em 2000 (toneladas)

x76=produção de milho em 2001 (toneladas)

x77=valor da produção de milho em 1994 (mil Reais)

x78=valor da produção de milho em 1995 (mil Reais)

x79=valor da produção de milho em 1996 (mil Reais)

x80=valor da produção de milho em 1997 (mil Reais)

x81=valor da produção de milho em 1998 (mil Reais)

x82=valor da produção de milho em 1999 (mil Reais)

x83=valor da produção de milho em 2000 (mil Reais)

x84=valor da produção de milho em 2001 (mil Reais)

x85=área cultivada com milho em 1994 (hectare)

x86=área cultivada com milho em 1995 (hectare)

x87=área cultivada com milho em 1996 (hectare)

x88=área cultivada com milho em 1997 (hectare)

x89=área cultivada com milho em 1998 (hectare)

x90=área cultivada com milho em 1999 (hectare)

x91=área cultivada com milho em 2000 (hectare)

x92=área cultivada com milho em 2001 (hectare)

x93=produção de soja em 1994 (toneladas)

x94=produção de soja em 1995 (toneladas)

x95=produção de soja em 1996 (toneladas)

x96=produção de soja em 1997 (toneladas)

x97=produção de soja em 1998 (toneladas)

x98=produção de soja em 1999 (toneladas)

x99=produção de soja em 2000 (toneladas)

x100=produção de soja em 2001 (toneladas)

x101=valor da produção de soja em 1994 (mil Reais)

x102=valor da produção de soja em 1995 (mil Reais)

x103=valor da produção de soja em 1996 (mil Reais)

x104=valor da produção de soja em 1997 (mil Reais)

x105=valor da produção de soja em 1998 (mil Reais)

x106=valor da produção de soja em 1999 (mil Reais)

x107=valor da produção de soja em 2000 (mil Reais)

x108=valor da produção de soja em 2001 (mil Reais)

x109=área cultivada com soja em 1994 (hectare)

x110=área cultivada com soja em 1995 (hectare)

x111=área cultivada com soja em 1996 (hectare)

x112=área cultivada com soja em 1997 (hectare)

x113=área cultivada com soja em 1998 (hectare)

x114=área cultivada com soja em 1999 (hectare)

x115=área cultivada com soja em 2000 (hectare)

x116=área cultivada com soja em 2001 (hectare)

x117=valor da produção das lavouras temporárias em 1994 (mil Reais)

x118=valor da produção das lavouras temporárias em 1995 (mil Reais)

x119=valor da produção das lavouras temporárias em 1996 (mil Reais)

x120=valor da produção das lavouras temporárias em 1997 (mil Reais)

x121=valor da produção das lavouras temporárias em 1998 (mil Reais)

x122=valor da produção das lavouras temporárias em 1999 (mil Reais)

x123=valor da produção das lavouras temporárias em 2000 (mil Reais)

x124=valor da produção das lavouras temporárias em 2001 (mil Reais)

x125=área cultivada com lavouras temporárias em 1994 (hectare)

x126=área cultivada com lavouras temporárias em 1995 (hectare)

x127=área cultivada com lavouras temporárias em 1996 (hectare)

x128=área cultivada com lavouras temporárias em 1997 (hectare)

x129=área cultivada com lavouras temporárias em 1998 (hectare)

x130=área cultivada com lavouras temporárias em 1999 (hectare)

x131=área cultivada com lavouras temporárias em 2000 (hectare)

x132=área cultivada com lavouras temporárias em 2001 (hectare)

x133=financiamento agropecuário em 1999 (Reais)

x134=financiamento agropecuário em 2000 (Reais)

x135=Fundo Centro Oeste em 1999 (Reais)

x136=Fundo Centro Oeste em 2000 (Reais)

x137=arrecadação tributos federais em 1999 (Reais)

x138=arrecadação tributos federais em 2000 (Reais)

x139=arrecadação tributos federais – Imposto Produto Industrializado em 1999 (Reais)

x140=arrecadação tributos federais – Imposto Produto Industrializado em 2000 (Reais)

x141=arrecadação tributos federais – Imposto Operações Financeiras em 1999 (Reais)

x142=arrecadação tributos federais – Imposto Operações Financeiras em 2000 (Reais)

x143=arrecadação tributos federais – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira em 1999 (Reais)

x144=arrecadação tributos federais – Imposto de Importação em 1999 (Reais)

x145=arrecadação tributos federais – Imposto de Importação em 2000 (Reais)

x146=arrecadação tributos federais – Outras Receitas em 1999 (Reais)

x147=arrecadação tributos federais – Imposto Exportação em 2000 (Reais)

x148=arrecadação tributos federais – Imposto Produtos Industrializados 1999 (Reais)

x149=arrecadação tributos federais – Imposto Renda Pessoa Física em 2000 (Reais)

x150=arrecadação tributos federais – Imposto Renda Pessoa Jurídica em 1999 (Reais)

x152=arrecadação tributos federais – Imposto Renda Retido na Fonte em 1999 (Reais)

x153=arrecadação tributos federais – Imposto Renda Retido na Fonte em 2000 (Reais)

x154=arrecadação tributos federais – Imposto Territorial Rural em 1999 (Reais)

x155=arrecadação tributos federais – Imposto Territorial Rural em 2000 (Reais)

x156=arrecadação impostos e taxas estaduais em 1995 (Reais)

x157=arrecadação impostos e taxas estaduais em 1996 (Reais)

x158=arrecadação Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços em 2000 (Reais)

x159=benefícios concedidos pelo INSS - Total em 2000 (Reais)

x160=arrecadação tributos federais – Contribuição Social sobre Lucro Líquido em 1999 (Reais)

x161=arrecadação tributos federais - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social em 1999 (Reais)

x162=arrecadação tributos federais – Fundação do Desenvolvimento Administrativo em 1999 (Reais)

x163=arrecadação tributos federais – Contribuição para o Plano de Seguridade Social do Servidor em 1999 (Reais)

x164=Instituto Nacional de Seguridade Social - Arrecadacao em 1999 (Reais)

x165=Instituto Nacional de Seguridade Social - Arrecadacao em 2000 (Reais)

x166=Instituto Nacional de Seguridade Social - Distribuido em 1999 (Reais)

x173=Fundo de Participação Estadual e Municipal em 1999

x174=Fundo de Participação Estadual e Municipal em 2000

x175=número de industrias em 1998

x176=número de industrias em 1999

x177=número de funcionarios nas indústrias em 1998

x178=número de funcionarios nas indústrias em 1999

x179=produção de carvao vegetal em 1997 (toneladas)

x180=produção de carvao vegetal em 1999 (toneladas)

x181=produção de lenha em 1997 (m³)

x182=produção de lenha em 1999 (m³)

x183=produção de madeira em tora em 1997 (m³)

x184=produção de madeira em tora em 1999 (m³)

x185=número de agências bancárias e cooperativas de crédito em 2000

x186=número de contratos com PRONAF em 2000

x187=valor contratado com PRONAF em 2000

x189=total de pontos de queimadas em 95 (Embrapa)

x190=total de pontos de queimadas em 96 (Embrapa)

x191=total de pontos de queimadas em 97 (Embrapa)

x192=total de pontos de queimadas em 98 (Embrapa)

x193=total de pontos de queimadas em 99 (Embrapa)

x194=total de pontos de queimadas em 2000 (Embrapa)

x195=total de pontos de queimadas em 2001 (Embrapa)

x196=total de pontos de queimadas em 2002 (Embrapa)

x197=total de pontos de queimadas em 2003 (Embrapa)

x198=área total dos assentamentos do INCRA até 1999

x199=número total de famílias assentadas pelo INCRA até 1999

x200=área total dos assentamentos do INCRA até 2000

x201=número total de famílias assentadas pelo INCRA até 2000

 


Anexo 5: Dendrograma resultante da análise de cluster.


Anexo 6: Imagens do satélite Landsat, ilustrando diferentes fases do processo de abertura de novas áreas.


8 FEARNSIDE, P.M. Desmatamento na Amazônia brasileira: com que intensidade vem ocorrendo? Acta Amazônica, Manaus, v.12, n.3, p.579-590, 1982.

9 Essa percepção de que a pecuária na Amazônia é uma atividade economicamente viável e que, portanto, subsidia e compensa o esgotamento causado pelas práticas e processos de produção que a sucedem é criticada por vários autores citados por Reydon (2001: p.301), que sustentam a tese de ser a pecuária a pior alternativa para a Amazônia, devido às altas taxas de perdas para o ecossistema, os baixos lucros obtidos e a baixa absorção de mão de obra.

10 Márcio Santilli (ISA), prefaciando Alencar et al., (2004: 10), afirma existirem evidências de que a agricultura intensiva da soja está atuando diretamente sobre a cobertura vegetal natural.

11 HOLDREN, J.P.; SMITH, K.R. (eds). Energy, the environment and helth. In: World Energy Assessment: Energy and the Challenge of sustainability. New York, United Nations Development Programme, 2000.

12 IPCC. Climate Change 200: Impacts, adaptation adn vulnerability. Contribution of Working Group II to the Third Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom, and New York, United States, 2001a.

13 IPCC. Climate Change 200: The Scientific Basis. Contribution of Working Group I to the Third Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom, and New York, United States, 2001b.

14 BERGER, R.; LIBBY, W.F. UCLA Radiocarbon dates. Radiocarbon. v.8. p.467-497, 1996.

15 MATSON, M.; SCHNEIDER, S.R.; ALDRIDGE, B.; SATCHWELL, B. Fire detection using the NOAA-series satellites. NOAA-NESS, Washington, DC, 1984.


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