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Análise de Cluster



9.5.3.1 Caracterização dos agrupamentos

Seguindo a disposição dos agrupamentos apresentados na Tabela 27, eles foram caracterizados de cima para baixo, ou seja, do agrupamento número 1, de cor verde escuro até o número 11, colorido de vermelho. Na realidade, essa ordenação foi definida pelo grau de similaridade entre os agrupamentos, ou seja, aqueles cuja localização ficou mais próxima possuem maior similaridade e os mais distantes possuem menor similaridade. Portanto, os agrupamentos com características mais divergentes foram o verde escuro (1) e o vermelho (11).

     

    9.5.3.1.1 Agrupamento 1

    Em relação às queimadas o primeiro agrupamento, constituído por 39 municípios (Tabela 28), apresentou as menores taxas de incidência de queimadas do Estado do Mato Grosso. Considerando as demais variáveis, esse agrupamento foi composto por municípios detentores de uma área relativamente pequena, com uma agricultura modesta, cujas lavouras temporárias não chegaram a ocupar 35% do território dos municípios e apresentaram uma pecuária modesta em relação ao número de cabeças de bovinos, mas uma densidade de bovinos bastante elevada para os padrões do Estado do Mato Grosso.

    Em relação às variáveis relacionadas à dinâmica de desmatamentos, esse conjunto de municípios apresentou uma porcentagem de área total desmatada extremamente elevada, condicionando na maioria dos casos, os reduzidos valores observados para a área desmatada no ano de 2000, em função do esgotamento de novas áreas disponíveis.

    Considerando esse conjunto de características, o agrupamento situa-se entre os mais estáveis e, portanto, foi classificado como um grupo de baixíssimo potencial para mudança nos padrões de uso da terras e incidência de queimadas.

    Tabela 28: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 1.

     

    9.5.3.1.2 Agrupamento 2

    Constituído por um total de 19 municípios, o segundo agrupamento apresentou valores um pouco superiores para área total e incidência baixa a média de queimadas. Em alguns casos, foram observados valores mais elevados de queimadas, como por exemplo nos municípios de Vera, Bom Jesus do Araguaia, Cláudia e Santa Carmem.

    Em relação à atividade agrícola, embora alguns municípios do agrupamento tenham apresentado áreas significativas de cultivo de soja, ele ainda foi caracterizado como um agrupamento detentor de baixa atividade agrícola. A atividade pecuária se manifestou de forma mais homogênea e, assim como no agrupamento anterior, foi modesta.

    Quanto às variáveis relacionadas à dinâmica de uso e avanço da fronteira agrícola, os municípios desse agrupamento apresentaram um comportamento bastante heterogêneo (Tabela 29). Os cinco primeiros municípios (Alto Garças, Alto Taquari, Campos de Júlio, Santa Rita do Trivelato e Santo Antônio do Leste) apresentaram valores de porcentagem de área desmatada situados entre os maiores do agrupamento e, concomitantemente, as maiores áreas de lavoura temporária, sobretudo de soja, indicando uma relativa estabilidade nos padrões de uso e conseqüentemente uma baixa incidência de queimadas.

    Por outro lado, os municípios de Cláudia, Santa Carmem e Vera apresentaram uma incidência de queimadas mais elevada, uma porcentagem de área total desmatada muito baixa e alguns indicadores de crescimento e expansão das áreas de cultura de soja (área desmatada em 2000, produção de madeira em tora em 1999 e área de soja em 2001). Essa combinação de valores indicou uma dinâmica emergente e um alto potencial de expansão da fronteira agrícola, sobretudo ao considerar a localização geográfica desses municípios, situados às margens dos grandes pólos de produção de soja.

    Os municípios Bom Jesus do Araguaia, Porto Alegre do Norte e Canabrava do Norte também apresentaram valores de incidência de queimadas significativos para o agrupamento. Situados em uma região de predominância de vegetação de cerrados com acentuada interface com a floresta de transição, esses municípios não apresentaram, portanto, valores de extração de madeira em tora como os observados no caso da expansão das áreas de soja destacados acima. Os demais municípios, todos localizados em áreas de vegetação de cerrados e interface com a floresta de transição, apresentaram baixa incidência de queimadas, uma agricultura incipiente e um número e densidade de bovinos baixo.

    Tabela 29: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 2.

    Resumidamente, pode-se dizer que esse agrupamento apresentou uma dinâmica relativamente baixa, ainda que em alguns casos, como naqueles municípios onde houve uma atividade significativa de soja, existam indicativos do potencial futuro de expansão desta atividade, principalmente em função da proximidade desses municípios aos grandes pólos de produção de grãos.

     

    9.5.3.1.3 Agrupamento 3

    Reunindo um total de 26 municípios, com incidência de queimadas considerada de baixa a média, esse agrupamento foi caracterizado pela presença mais incisiva da atividade pecuária, concomitantemente à ainda pouco expressiva atividade agrícola. Da mesma forma que o agrupamento 2, em alguns casos foram observados valores mais elevados de incidência de queimadas (Vila Rica e Sinop), onde ocorreram também significativos aportes do FCO.

    Apresentando um nível de mecanização mais elevado que os agrupamentos anteriores, notam-se, aí, elementos indicativos de um potencial para dinâmica de uso e ocupação mais acelerada como, por exemplo, uma porcentagem de desmatamento com valores intermediários (indicativos da existência de áreas ainda não exploradas), associadas a taxas de desmatamento no ano de 2000 relativamente elevadas, indicativas da presença de processos de expansão da fronteira. Possivelmente, o fato de os municípios desse agrupamento estarem localizados em regiões de vegetação predominantemente de cerrado condicionou a baixa atividade de extração de madeira em tora observada na Tabela 30.

     

    Tabela 30: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 3.

    O agrupamento 3, de forma geral, envolveu municípios com um potencial para pecuária já parcialmente explorado. Porém, embora não tenha sido caracterizado por uma atividade agrícola forte, reservou um significativo potencial para expansão dessa atividade, sobretudo nos municípios mais próximos aos pólos de produção de grãos e sementes como, por exemplo, Sinop e São José do Rio Claro.

     

    9.5.3.1.4 Agrupamento 4

    O agrupamento 4, formado por um total de 23 municípios com extensão territorial considerada de média a grande, caracterizou-se pela alta incidência de pontos de queimadas, presença de um rebanho bovino bastante expressivo e pela baixíssima expressão da atividade agrícola (Tabela 31).

    Em relação à dinâmica do uso das terras notam-se valores muito baixos de porcentagem de área desmatada até o ano de 2000, associados a valores de área desmatada em 2000 extremamente grandes.

    Tabela 31: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 4.

    A grande incidência de queimadas nesse agrupamento foi associada à expansão da fronteira agrícola e à consolidação da atividade da pecuária e, dada à reduzida porcentagem de área desmatada e à dinâmica representada pelos desmatamentos recentes verificados, o potencial de expansão da fronteira agrícola e de incidência de queimadas, nesses municípios, foi considerado extremamente elevado.

     

    9.5.3.1.5 Agrupamento 5

    Esse agrupamento foi composto por 7 municípios com área mediana, nos quais as atividades agrícola e pecuária se mostraram bastante reduzidas. Da mesma forma que ocorreu no agrupamento anterior, em função das porcentagens de área desmatada serem reduzidas e das áreas desmatadas em 2000 serem relativamente elevadas, a dinâmica de cobertura e uso as terras apresentou um potencial bastante elevado, sobretudo naqueles municípios localizados próximos aos pólos de produção de soja.

    Dois diferenciais apresentados por esse agrupamento foram o significativo volume da produção de madeira em tora (Tabela 32), associado a uma incidência média de pontos de queimadas e o expressivo número de famílias assentadas pelo INCRA. Essas características, quando associadas aos demais indicadores da dinâmica de uso e ocupação, caracterizaram a fase inicial do processo de expansão da fronteira agrícola.

    Tabela 32: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 5.

    O importante elemento proposto por esse agrupamento foi a identificação de municípios em fase inicial de ocupação, mostrando o processo se desenvolvendo com a extração seletiva da madeira, concomitantemente a um modesto e reservado uso do fogo e o início da implementação do rebanho bovino.

     

    9.5.3.1.6 Agrupamento 6

    Formado por um total de 6 municípios, esse agrupamento apresentou área mediana, porcentagem muito elevada de área desmatada em 2000 e uma significativa co-ocorrência das atividades de pecuária e agricultura de algodão, cana-de-açúcar e soja.

    O destaque desse agrupamento está no elevado número de tratores, proporcionado possivelmente pela agricultura altamente mecanizada, sobretudo no pólo de produção de sementes de soja, e de produção de algodão, localizado em Itiquira, Rondonópolis e Pedra Preta.

    Esse grupamento apresentou também significativo recebimento de recursos do FCO em 2000, possivelmente associado ao desenvolvimento da atividade pecuária, uma vez que os montantes mais significativos de recursos foram direcionados, sobretudo, àqueles municípios onde existiu um marcado predomínio dessa atividade sobre a agricultura. Cabe ressaltar ainda que os municípios que mais receberam esses recursos apresentaram as maiores taxas de queimadas.

    Apesar de apresentarem incidência de queimada média/baixa, como mostra a Tabela 33, possivelmente em função das elevadas porcentagens de área desmatada e pela localização dos municípios em áreas de vegetação de cerrado, os municípios que apresentaram as maiores áreas desmatadas em 2000 também apresentaram os maiores valores de F1.

    Tabela 33: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 6.

     

    9.5.3.1.7 Agrupamento 7

    Composto por 8 municípios detentores de áreas extremamente grandes e porcentagem de desmatamento baixas, esse agrupamento foi caracterizado por uma atividade pecuária extremamente forte e pela discretíssima presença da atividade agrícola.

    Possivelmente as elevadas participações no FCO anotadas para os municípios estiveram associadas, sobretudo, à expansão das áreas de pastagem, já que esse agrupamento indicou valores de incidência de pontos de queimadas altos, situados entre os mais elevados de todo o Estado.

    A contabilização do elevado número de tratores em todos os municípios deve estar associada à expansão da fronteira agrícola, no caso impulsionada, quase que exclusivamente, pela atividade pecuária.

    Embora de forma ainda modesta, alguns municípios apresentaram alguma atividade de agricultura de soja como, por exemplo, os municípios de Paranatinga, Tangará da Serra e Canarana (Tabela 34), sugerindo a possibilidade de expansão dessa atividade nesse agrupamento, em alguns casos devido a suas localizações, próximas aos pólos de produção de grãos.

    Tabela 34: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 7.

    A não ser pela fraca produção de madeira em tora, o conjunto de características desse agrupamento sugeriu tratar-se de um agrupamento no qual persistem comportamentos típicos da fase inicial de expansão da fronteira agrícola, na qual a atividade de pecuária inicia o processo de abertura e ocupação das terras, até a consolidação total das propriedades e, em seguida, cede espaço à atividade agrícola. Esses municípios devem persistir com intensa dinâmica de uso das terras, em função dos reduzidos percentuais de terras ocupadas, portanto a incidência de queimadas deve permanecer entre as mais elevadas do Estado.

     

    9.5.3.1.8 Agrupamento 8

    Representado por apenas 2 municípios de dimensões consideradas grandes, esse agrupamento caracterizou-se por apresentar o maior número de famílias assentadas pelo INCRA até o ano 2000. Detentores de um rebanho bovino modesto e de atividade agrícola incipiente, esses municípios obtiveram valores altos para produção de madeira em tora e médios para incidência de pontos de queimadas. O município de Aripuanã apresentou o segundo maior volume de madeira em tora produzido em 2000, no Estado do Mato Grosso, e alta incidência de pontos de queimadas.

    Mais uma vez pode-se observar o início do processo de ocupação, desta vez direcionado pelo próprio Estado, através da implantação de projetos de assentamento. Os reduzidos montantes de recursos do FCO destinados a esses dois municípios e a baixa mecanização observada devem estar associados às altas taxas de exploração da madeira (Tabela 35), como a principal fonte de renda, sobretudo nessa fase do processo de expansão da fronteira, onde os recursos madeireiros são absolutamente extraordinários.

    Tabela 35: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 8.

    Trata-se , portanto, de um caso onde o Estado promoveu o início da expansão da fronteira agrícola e, após estimular e assentar as populações, omitiu-se das responsabilidades de direcionar e controlar o padrão e rítmo da ocupação, deixando o espaço livre para a atuação dos agentes do mercado que, sobretudo nessas regiões e frente a essas oportunidades, não possuem compromisso algum com as premissas da sustentabilidade ecológica e do desenvolvimento sustentável.

     

    9.5.3.1.9 Agrupamento 9

    O agrupamento 9 foi constituído apenas pelo Município de Campo Novo dos Parecis, apresentando uma superfície total de valor elevado e uma porcentagem de área desmatada e área total desmatada em 2000 também elevadas, ainda que mascaradas pela presença da Terra Indígena Utiariti, cobrindo grande porção do seu território.

    A presença de um rebanho bovino extremamente reduzido e da atividade agrícola muito forte o caracterizaram como um município detentor de um perfil de dinâmica de uso das terras praticamente estável, confirmado pela produção de madeira praticamente inexistente e pela média incidência de queimadas (Tabela 36).

    Vale ressaltar que nesse caso os elevados valores recebidos através do FCO não foram traduzidos em altas taxas de incidência de queimadas, como ocorreu no caso do agrupamento 7.

    Tabela 36: Distribuição dos valores e das classes das variáveis no agrupamento 9.

     

    9.5.3.1.10 Agrupamento 10

    Agrupamento formado por 4 municípios com área variando de média a grande, com um rebanho muito reduzido e com uma agricultura extremamente ativa, sobretudo com a produção de algodão, soja e milho.

    As altas porcentagens de área desmatada em 2000 indicaram uma estabilidade na dinâmica de uso das terras, confirmada pela baixa/média incidência de queimadas e pela irrisória produção de madeira em tora observada.

    Muito provavelmente, a maior incidência de pontos de queimadas observados nos municípios de Diamantino e Nova Mutum (Tabela 37) esteja relacionada ao fato de eles estarem localizados na região de transição entre a floresta e o cerrado e, portanto, o processo de erradicação da vegetação natural neste caso ter utilizado o fogo para eliminação dos restos florestais. Por outro lado, foram eles que apresentaram as menores porcentagens de área desmatada e, em função disso, contabilizaram alguma taxa de expansão das áreas agrícolas em 2000.

    Tabela 37: Distribuição dos valores e classes das variáveis no agrupamento 10.

    Esse agrupamento foi caracterizado com um perfil agrícola bastante estável, no qual a expansão desenvolveu-se, principalmente, nos municípios detentores das menores porcentagens de área desmatada, indicando uma certa saturação do espaço físico disponível e a conseqüente desaceleração do processo de expansão das áreas agrícolas.

     

    9.5.3.1.11 Agrupamento 11

    Reunindo um total de 4 municípios, o agrupamento 11 foi caracterizado por possuir uma agricultura forte, sobretudo pela produção de soja e milho e uma pecuária muito fraca. Vale notar que o município que possui o maior rebanho bovino nesse agrupamento, é justamente o que detém menor área plantada, a segunda menor porcentagem de área desmatada, a maior produção de madeira em tora e, finalmente, a maior incidência de queimada do Estado do Mato Grosso (Tabela 38), indicando claramente a existência da atividade de expansão da atividade antrópica.

    Tabela 38: Distribuição dos valores e classes das variáveis no agrupamento 11.


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