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DISCUSSÃO



10 DISCUSSÃO

Não há duvidas de que as estratégias e políticas, historicamente formuladas e adotadas pelos diferentes governos federais, para ocupar e adensar as populações humanas no espaço amazônico, com o intuito original de demonstrar a soberania nacional sobre a região, são responsáveis pelo quadro atual que promove grandes impactos ambientais, desordem fundiária e graves conflitos sociais.

A ausência de políticas públicas amplas e articuladas, envolvendo demandas oriundas de diferentes setores do governo e procurando ocupar a Amazônia de forma ordenada e coordenada pelo Estado, acabou culminando com a definição de diferentes iniciativas, baseadas sobretudo na implantação de infra-estrutura de acesso e na criação de assentamentos de pequenos agricultores.

Se por um lado a abertura e pavimentação de grandes eixos viários expôs enormes extensões territoriais, até então consideradas como grandes vazios demográficos, ao sabor da ganância especulativa e do oportunismo descoordenado, por outro a insuficiência de políticas de crédito, educativas, e sociais, que garantissem o desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico das populações assentadas, acabou gerando uma dinâmica própria, pautada na utilização maciça dos recursos naturais e no desenvolvimento de atividades produtivas rudimentares.

É nesse cenário de quase absoluta ausência do Estado, tanto como um agente moderador e coordenador dos processos de ocupação e das relações de produção, quanto como um agente promotor do desenvolvimento tecnológico e do crescimento econômico, que o fogo surge como uma ferramenta poderosa, capaz de desenvolver diferentes funções e viabilizar, a um custo imediato bastante modesto, a expansão da fronteira agrícola e o desenvolvimento de atividades agropecuárias baseadas em baixos níveis de mecanização.

Apesar de cumprir seu papel na abertura de novas áreas para a agricultura, através da eliminação dos restos vegetais depositados sob o solo, após o corte da floresta, de promover a adubação com o depósito das cinzas na superfície, de eliminar pragas e provocar a rebrota das pastagens etc., as queimadas na região amazônica assumiram uma dimensão alarmante, em função dos seus impactos diretos e indiretos, locais, regionais e globais, entre os quais, alguns dos mais discutido pela comunidade cientifica na atualidade, estão as mudanças climáticas globais e as alterações da biodiversidade.

Não obstante todos os inegáveis e inúmeros impactos ambientais negativos promovidos pelas queimadas, a sua incidência, em alguns casos, cumpre um papel importantíssimo para a manutenção de certas dinâmicas naturais, vitais para a manutenção e perpetuação de alguns ecossistemas, como no caso dos ecossistemas do Cerrado.

Historicamente, as políticas governamentais elaboradas com o objetivo de modificar o quadro de incidência das queimadas, abordaram esse fenômeno com muita superficialidade buscando, quase sempre, estabelecer a sua redução através da proibição incondicional da sua utilização e da adoção de mecanismos insuficientes de comando e controle. Talvez, os maiores entraves para a obtenção de melhores resultados dessa estratégia, estejam relacionados às enormes dimensões do território nacional, somadas às dificuldades de acesso e deslocamento ainda existentes em algumas regiões.

O desenvolvimento e execução de abordagens e análises rápidas e de baixo custo são fundamentais, sobretudo, se considerarmos as dimensões do espaço amazônico e a sua dinâmica de ocupação. Considerando esse aspecto, a utilização de técnicas e ferramentas de sensoriamento remoto e geoprocessamento torna-se absolutamente essencial para o cumprimento da tarefa de identificar, delimitar, mapear e explicar os processos envolvidos e as variáveis condicionantes da dinâmica de queimadas, em cada contexto específico.

O desenvolvimento da discussão deste trabalho foi dividido em duas partes, pelo fato de haver uma componente estritamente técnica e metodológica, relacionada ao sistema e ao método de obtenção e tratamento dos pontos de queimadas, e uma segunda parte ligada à discussão dos resultados das análises espacial e estatística, desenvolvidas com o objetivo de identificar e explicar as condicionantes da dinâmica das queimadas


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