Embrapa Monitoramento por Satélite


DISCUSSÃO



10.1 DADOS DE QUEIMADAS: O POTENCIAL RESERVADO À SÉRIE HISTÓRICA

Atualmente, existe no mercado de observação da Terra uma enorme diversidade e volumes de dados de queimadas disponíveis, provenientes do desenvolvimento e lançamento de novos sensores orbitais, novas metodologias e aplicativos para sua detecção, identificação e mapeamento.

As demandas sobre dados de queimadas, provenientes de diferentes setores governamentais e da sociedade civil, nacional e internacional, têm chamado a atenção para a necessidade do desenvolvimento de sensores com melhor resolução espacial, espectral e radiométrica e, com isso, têm norteado os rumos do desenvolvimento dessas ferramentas. Embora convencionalmente as imagens do satélite NOAA/AVHRR sejam utilizadas para o cumprimento dessa tarefa, desde a década de 80, atualmente percebe-se a obtenção de um melhor desempenho com uso de tecnologias mais modernas, como atestam vários trabalhos relacionados na seção 6.6, sobre sensoriamento remoto aplicado à detecção de queimadas.

Não bastassem as vantagens relacionadas à possibilidade de aumentar o detalhe das imagens através da utilização de outros sistemas orbitais e sensores, existem ainda outras qualidades provenientes do fato de terem sido eles muitas vezes planejados e programados para cumprir essa tarefa específica de identificação, mapeamento e monitoramento de queimadas, o que não ocorreu com o sensor AVHRR à bordo do NOAA, que foi programado, inicialmente, para obtenção de dados meteorológicos.

As indiscutíveis vantagens associadas à continuidade da utilização das imagens do NOAA, como bem definiu o trabalho de Elvidge et al. (1997), estão relacionadas à alta freqüência de obtenção de imagens de um mesmo ponto da superfície terrestre, ao reduzido custo de transferência das imagens e, sobretudo no caso do território brasileiro, à existência de uma série histórica de dados de queimadas, produzida e colocada à disposição gratuitamente pelo Instituto de Pesquisas Espaciais.

Concordando com Li et al. (2000), essa série histórica ininterrupta, estruturada segundo a aplicação de uma mesma metodologia, homogênea e consistente, cobrindo o período crítico da dinâmica de queimadas, foi decisiva e imperativa na escolha do produto de monitoramento de queimadas utilizado neste trabalho, mas considerando a diversidade de dados existentes e o celeuma que envolve a utilização dos dados do NOAA/HVRR e o método empregado na geração do produto de queimadas do INPE, fez-se necessária a verificação da precisão dos dados, como uma forma de garantir e não comprometer a confiabilidade dos resultados obtidos, posteriormente, com os processamentos espaciais e estatísticos multivariados, onde a dinâmica de queimadas foi a variável mais importante (explicada).

Os resultados da verificação da precisão dos dados de queimadas desenvolvida neste trabalho confirmaram os resultados do trabalho de Setzer (1993) e fundamentaram a execução dos processamentos posteriores com esses dados, sobretudo porque não foi proposta nenhuma avaliação ou associação com valores relacionados à extensão das queimadas, medida comprovadamente imprópria para ser efetuada com esse sistema de monitoramento de queimadas, como já haviam alertado Setzer (1993) e Arino et al. (2000).

Ficou evidente que a ampliação e integração dessa base de dados, em análises que busquem uma compreensão mais ampla desse fenômeno, é fator fundamental para transformar as convencionais análises quantitativas e locativas, baseadas sobretudo na confecção de mapas cloropléticos, em abordagens mais complexas que pretendam compreender, de forma mais profunda e integrada, o fenômeno das queimadas, bem como suas complexas geometrias, fluxos e articulações com os sistemas naturais e antrópicos.

O desenvolvimento metodológico e a utilização dos dados de incidência de queimadas para a definição da sua dinâmica, através de análises espaciais e estatísticas, mostraram existir um potencial ainda pouco explorado na compreensão desse fenômeno. O exercício de agregar informações aos dados de queimadas, em análises multivariadas, foi fundamental para a formatação e hierarquização dos conjuntos de variáveis que explicaram, cada qual em seu contexto, as diferentes relações e articulações existentes entre os principais atores e atividades envolvidas na definição da dinâmica de queimadas observada.

Todo o desenvolvimento tecnológico e metodológico resultante dos esforços da comunidade científica e das instituições governamentais e privadas é absolutamente justificável e necessário para a obtenção de uma melhor qualidade das informações e consolidação de instrumentos mais precisos e eficientes para o monitoramento das queimadas. No entanto, isso não deve significar que os dados das séries históricas de queimadas, processados diariamente e armazenados há aproximadamente vinte anos, devam ou possam ser desprezados ou ignorados.

Ficou evidente que o potencial e as limitações dos dados de queimadas produzidos pelo NOAA/AVHRR, armazenados no Instituto de Pesquisas Espaciais, devem ser exaustivamente testados e utilizados pois, como mostraram os resultados deste trabalho, as evidências históricas da ocorrência e dinâmica desse fenômeno, bem como as variáveis que o conduzem, ainda estão enfronhadas e camufladas nos meandros e detalhes escusos dessa base de dados.


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