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O ESTADO DO MATO GROSSO



7.1.1 Histórico de ocupação

Apesar de, historicamente, terem pertencido à Espanha, a partir do Tratado de Tordesilhas (Figura 2), as terras hoje pertencentes ao Estado do Mato Grosso foram pouco exploradas pelos espanhóis que preferiram, durante o século XVI, XVII e XVIII, se fixar no extremo Ocidente Sul-americano, onde haviam encontrado grande quantidade de prata (Gomes, 2001, p. 2). Esse desinteresse pelo Planalto Central foi motivado, por um lado, pela abundância de metais preciosos na porção ocidental e por outro lado pela presença de grandes contingentes indígenas que, acossados pelos portugueses que penetravam no Brasil Central, de Leste para Oeste, formavam uma grande fronteira viva entre os dois impérios (Siqueira, 2002, p. 27).

Figura 2: Linha de demarcação entre as terras atribuídas a Portugal e Espanha (Fonte: IGEO/UFRJ, 2003).


Inicialmente o interesse dos bandeirantes paulistas que adentraram na região era exatamente a captura desses índios, mercadoria abundante na região, para sua posterior comercialização nos mercados de São Paulo. Ocorre que, em 1719, membros da expedição de Pascoal Moreira Cabral, ao descobrirem algumas pepitas de ouro nas denominadas Minas de Cuiabá, pertencentes na época à Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, iniciaram o ciclo de exploração das minas no território mato-grossense (Costa e Silva, 1993, p. 13).

Posteriormente, a grande divulgação da descoberta das "Lavras do Sutil", em 1722, efetuada pela bandeira de Miguel Sutil, que aportara em Cuiabá com o objetivo de se dedicar à agricultura, fez com que a migração oriunda de todas as partes da colônia se tornasse muito intensa, fato que tornaria Cuiabá, no período de 1722 a 1726, uma das cidades mais populosas do país (Ferreira, 1993, p. 11).

A ocupação do território, que fora iniciada no século XVIII na porção Sul do Estado, em decorrência das descobertas e do desenvolvimento das atividades de mineração de ouro e diamante, durante o século XIX instalou-se, preferencialmente, nas áreas do Pantanal Matogrossense e nas Depressões do Alto Paraguai, Cuiabana e Guaporé, regiões no Domínio do Cerrado com presença expressiva da Floresta Estacional e de ambientes transicionais (SEPLAN-MT, 2002).

Embora existam significativas discrepâncias relacionadas às datas de criação dos municípios mais antigos, foi no período que se estende pelos séculos XVIII e XIX, que ocorreu a criação de povoados como Cuiabá (1719), Vila Bela da Santíssima Trindade (1737), Diamantino (1728), Cáceres (1778) e Poconé (1778). Além do garimpo, a exploração da poaia (Cephaëlis ipecacuanha A.Rich), planta possuidora de propriedades eméticas, que ocorria em ambientes da Floresta Estacional, entre os rios Paraguai e Guaporé, propiciou o desenvolvimento de Cáceres, além de condicionar o surgimento de Barra do Bugres, às margens do Rio Paraguai (SEPLAN-MT, 2002; Silva, 1992, p. 33).

No início do século XX a ocupação estendeu-se progressivamente para Leste, no sentido da Bacia do Araguaia e das rotas de ligação entre as regiões meridionais e setentrionais do país. Nesta área a ocupação também ocorreu em função da atividade de mineração, criando núcleos para o suprimento de bens de consumo para a população atraída por esta atividade.

A primeira metade do século XX é marcada pelas descobertas de jazidas diamantíferas na porção Sudeste do Estado, no vale dos rios Araguaia, Garças e São Lourenço, dando início ao processo de povoamento desta região, com a criação dos núcleos que originaram as atuais cidades de Alto Araguaia, Barra do Garças, Araguaiana, Pontal do Araguaia, Tesouro, Guiratinga, Alto Garças, Poxoréo, Dom Aquino e Itiquira. Simultaneamente, expande-se também a ocupação na região de Alto Paraguai e Diamantino, pelo desenvolvimento das atividades agropecuárias nesta região e no entorno de Cuiabá, com ênfase para o cultivo da cana-de-açúcar. (SEPLAN-MT, 2002).

Expedições exploratórias e científicas, como a Expedição Roncador-Xingu e a Expedição Rondon, que implantou a linha telegráfica, induziram a criação de diversos núcleos urbanos como Rondonópolis, General Carneiro, Acorizal, Porto Esperidião e foram importantes no processo de ampliação da ocupação do território matogrossense.

Nessa época, os principais eixos de penetração correspondiam ao interflúvio entre o Rio Araguaia e o Rio Xingu, na região de São Félix do Araguaia e Cocalinho, ao Vale do Guaporé e às regiões mineradoras de Diamantino e Alto Paraguai.

Entre os anos 50 e 70, iniciam-se ações dirigidas de colonização, promovidas pelo governo estadual, dando início a um povoamento mais extensivo do território. Entretanto, é apenas a partir das décadas de 70 e 80, em função das políticas de integração nacional, implementadas pelo Governo Federal com o objetivo de anexar os grandes vazios demográficos ao processo produtivo brasileiro, que ocorre a ampliação e a incorporação das terras de Mato Grosso às atividades produtivas. (SEPLAN-MT, 2002)

Neste período o processo de incorporação do território matogrossense foi mais intenso, salientando-se o papel decisivo que desempenharam a abertura de rodovias e a implantação de núcleos de colonização. A grande maioria dos municípios surgidos a partir da década de 70 teve sua origem em projetos de colonização privados ou governamentais, sobretudo na porção Norte do Estado.

A melhoria das condições de acessibilidade propiciou a expansão das atividades de mineração, extração de madeira e a implantação da agropecuária. No contexto desse processo, ocorreu a consolidação das antigas cidades do Sul-Sudoeste e o surgimento de novos núcleos urbanos, principalmente na região Centro-Norte, com fluxos migratórios internos ao Estado de Mato Grosso, oriundos de outras regiões do país (SEPLAN-MT, 2002).

Simultaneamente, ocorre também a partir da década de 70 uma mudança radical nas atividades agrícolas, motivada sobretudo pelo desenvolvimento das pesquisas de culturas agrícolas adaptadas aos solos de Cerrado e, em especial, à criação de cultivares de soja adaptados às condições climáticas do Estado. A cultura da soja e de outros grãos, com moldes de manejo altamente mecanizados, ocupa hoje grande parte do território da região de Rondonópolis e Primavera do Leste (Planaltos Taquari/Alto Araguaia e dos Guimarães), a Chapada e Planalto dos Parecis (Tangará da Serra, Campos de Júlio, Sapezal, Campo Novo dos Parecis, Diamantino) e ao longo da rodovia BR-163 (Sorriso, Tapurah, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sinop), transformando radicalmente ambientes de Cerrado e de formações transicionais, avançando além dos limites dos domínios florestais.


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