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MÉTODOS



8.10 DETERMINAÇÃO DA DINÂMICA DE OCORRÊNCIA DE QUEIMADAS

A unidade de correlação espacial definida no âmbito dessa etapa do trabalho também foi a base municipal do Estado e a identificação e caracterização da dinâmica de ocorrência de queimadas foi baseada em resultados de procedimentos de análise estatística multivariada.

O desenvolvimento dessa análise teve como meta estabelecer e demonstrar a existência de diferentes dinâmicas relacionadas à incidência de queimadas nos municípios do Estado do Mato Grosso. Além de demonstrar a existência dessa variação de padrões e comportamentos, a análise permitiu identificar a localização e composição dos agrupamentos com características semelhantes.

Para o desenvolvimento desta etapa foi utilizada a matriz original contendo os dados de queimada por município, porém essa análise estatística exigiu que os dados fossem normalizados (Valentin, 2000, p. 75).

Foi desenvolvida então uma análise de componentes principais - ACP sobre a totalidade dos dados, com o objetivo de buscar os principais eixos que "explicassem" as variações anuais entre os 139 municípios. A ACP foi, e talvez continue sendo, o método de ordenação mais usado para tratar dados multivariados estabelecendo, com base em uma matriz de semelhança (correlações, variâncias-covariâncias ou até mesmo de similaridades), um conjunto de eixos denominados componentes principais.

Na aplicação dessa técnica considerou-se uma tabela inicial de dados (matriz) de 139 linhas que correspondem às unidades de observação ou indivíduos e nove colunas que correspondem às variáveis, medidas em números reais, que expressam características específicas das unidades de observação. Em uma representação espacial desse conjunto todo, os indivíduos podem ser considerados vetores, cujas coordenadas são as observações das variáveis que se encontram dispostas nas linhas da tabela. Dessa forma, o espaço multidimensional, limitado pela totalidade das representações é definido pelos pontos extremos das representações geométricas de cada vetor (Kageyama e Leone, 1999).

A ACP consiste em definir direções ou eixos que, passando pelo centro de gravidade da nuvem e tomados dois a dois, determinem planos, ortogonais, sobre os quais se projetam os pontos da nuvem constituída pelos elementos do conjunto, de forma que cada direção torne máxima a inércia em relação ao centro de gravidade dos pontos nela projetados. O que, geometricamente, equivale a obter os eixos que representam melhor a variabilidade dos elementos do conjunto (Kageyama e Leone, 1999).

Quando o primeiro eixo ou fator consegue reter uma quantidade suficiente da informação total, contida no conjunto das variáveis originais, nesse caso representadas pelas queimadas anuais de cada município, temos a possibilidade de representar todas as variáveis através de um único eixo, ou seja, através de uma nova variável denominada F1. Esse procedimento facilitou muito a diferenciação e definição de agrupamentos de indivíduos, no caso os municípios, em função de transformar um universo multidimensional em um universo unidimensional. Freqüentemente as análises multivariadas por componentes principais utilizam até o segundo fator (F1 e F2) para explicar o comportamento dos indivíduos.

Quanto mais próximos forem os valores dos municípios, obtidos nos eixos das principais componentes, maiores tenderão a ser as semelhanças do comportamento das queimadas nesses municípios.

Com os valores obtidos na primeira componente (F1), foi efetuada a classificação dos municípios, segundo o método de quebras naturais, para a formação de 4 grupos distintos e verificação do padrão de ocorrência de queimadas em cada um deles.

Em cada agrupamento definido, foi efetuada uma regressão linear com os dados de queimadas, com o propósito de identificar características e tendências distintas para cada agrupamento de municípios. Para a elaboração desses gráficos dos agrupamentos foram utilizados os dados originais dos totais de queimadas para não padronizar, ponderar ou mascarar nenhum comportamento individual.

Depois de definidos os municípios componentes de cada agrupamento e caracterizados os seus distintos comportamentos em relação à dinâmica de ocorrência de queimadas foi necessário, ainda, identificar quais variáveis estariam determinando essas diferentes dinâmicas e, mais importante do que isso, verificar se os municípios de um mesmo grupo estavam sujeitos às mesmas condicionantes ambientais, sociais, econômicas etc., ou não.

Para cumprir essa etapa do trabalho, foram elaboradas duas análises com os dados de queimadas e as demais variáveis selecionadas. Uma primeira abordagem foi intitulada de "análise espacial", pelo fato de trabalhar com os dados cartografados em um Sistema de Informações Geográficas – SIG, no qual foram feitas associações e verificações espaciais entre os pontos de ocorrência de queimadas e algumas cartas temáticas selecionadas. A segunda abordagem, intitulada análise estatística, trabalhou estritamente com comparações de padrões e comportamentos quantitativos das séries de dados de queimadas e das demais variáveis.


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